“O Homem Perfeito
A virtude subdivide-se em quatro aspectos:
tomar as decisões adequadas, dar
a cada um o que lhe é devido.(...)
O homem perfeito, possuidor da
virtude,
nunca se queixa da fortuna,
nunca aceita os acontecimentos de
mau humor,
pelo contrário, convicto de ser
um cidadão do universo,
um soldado pronto a tudo,
aceita as dificuldades como uma
missão que lhes é confiada.
Não se revolta ante as desgraças como
se elas fossem um mal originado pelo azar,
mas como uma tarefa de que ele é encarregado.
“Aconteça o que acontecer, — diz
ele —
O problema é meu;
por mais áspera e dura que seja a
situação,
tenho de dar o meu melhor!”
Um homem que nunca se queixa dos seus males
nem se lamenta do destino,
temos forçosamente de julgá-lo um
grande homem!
Tal homem dá a conhecer a muitos
outros
a massa de que é feito, (...)
Tal homem possui uma alma
perfeita, (...)
Seneca,
in "Cartas a Lucílio"
Olá, Envenenados!
Estamos de volta, após um longo período sem postagens. Foram
vários os motivos que nos mantiveram longe, todos de cunho pessoal, porém a
vontade de ler e escrever nunca nos abandonou, claro.
Regressamos com um novo visual e com vontade de falar sobre o que
amamos, sem restrições, sem rédeas.
Como presente pelo nosso regresso, trouxe um livro sobre o qual já
escrevi há cinco anos.
Até 30 de agosto de 2013, o livro Mr. Perfect, da minha autora
favorita ainda, ainda não tinha sido publicado por aqui – motivo de frustração.
Mas, eis que um belo dia, estava rolando o Instagram, quando deparei com a foto
abaixo. Quase nem acreditei quando descobri que a Bertrand Brasil publicou O
Homem Perfeito.
Só não corri para a livraria no mesmo dia porque o comércio já
tinha fechado. Mas, no dia seguinte, não perdi tempo e adquiri o meu exemplar.
Sinopse:
Jaine
Bright e suas amigas se reúnem para discutir como seria um homem perfeito...
mas não sabiam que isso se tornaria um arrepiante pesadelo.
Como
seria o homem perfeito? Esse é o polêmico assunto que Jaine Bright e suas
amigas discutem certa noite em seu restaurante favorito. Quais seriam suas
principais qualidades? Seria ele alto, atraente e misterioso? Precisaria ser
carinhoso e atencioso, ou apenas musculoso? Jaine e suas amigas começam com o
básico: precisaria ser fiel e confiável, responsável, ter senso de humor.
Conforme
a conversa fica mais animada, elas montam uma lista tanto engraçada como
picante. Sem querer, a lista é divulgada e, da noite para o dia, se torna uma
enorme sensação, espalhando-se pela empresa na qual trabalham, chamando a
atenção, inclusive, da imprensa local e de canais de TV.
Nenhuma
das quatro esperava tamanha repercussão. Mas o que começou com uma brincadeira
entre amigas se torna perigosamente sério quando uma delas é assassinada.
Recorrendo a seu vizinho, um detetive imprevisível e muito atraente, Jaine
precisa desmascarar o assassino para salvar sua vida e das outras duas.
Preciso, além de agradecer à editora pela publicação, parabenizá-la
pela escolha da capa (o detalhe do título escrito com batom vermelho foi
perfeito) e pela fidelidade e cuidado com a tradução e edição.
O livro conta a história de Jaine Bright, que acaba de comprar sua
casa em uma rua tranquila de Warren, Michigan. A nova aquisição a deixa muito
realizada, feliz mesmo. Sua felicidade só seria completa se soubesse que teria
uma dor de cabeça em forma de vizinho, pois certamente teria escolhido outro
imóvel. Mas ela tinha justamente que comprar sua tão sonhada casa ao lado da
casa de Sam Donovan, o “espírito de porco” da vizinhança.
“Jaine Bright acordou de mau humor.
Seu vizinho, o terror do bairro, chegava em casa com um estrondo
às três da manhã. Se o carro dele já tivera um silenciador, havia deixado de
funcionar muito tempo atrás. Infelizmente, o quarto de Jaine ficava do lado da
casa que dava para a garagem dele; nem mesmo cobrir a cabeça com o travesseiro abafava
o som do Pontiac de oito cilindros. O sujeito batera a porta do carro, acendera
a luz da varanda – que estava maliciosamente posicionada para brilhar bem nos
olhos de Jaine se ela deitasse de frente para a janela, o que era o caso -,
deixara a porta de tela bater três vezes enquanto ele entrava, saíra de novo
alguns minutos depois e, então, voltara para dentro, obviamente se esquecendo
de apagar a luz, já que, alguns minutos mais tarde, a cozinha ficara escura,
mas a maldita varanda continuava acesa.
...
Ele era alcoólatra. Mas por que não podia ser um bêbado alegra? –
perguntou-se ela, amargurada. Não, ele tinha que ser um bêbado ranzinza e
maldoso, do tipo que a deixava com medo de soltar o gato se o sujeito estivesse
em casa. BooBoo não era grande coisa – o bicho nem era dela – mas sua mãe o amava,
então, Jaine não queria que nada acontecesse com ele enquanto estava sob sua
custódia temporária. Ela nunca mais conseguiria encarar a mãe se os pais
voltassem de suas férias dos sonhos de seis semanas na Europa para descobrir
que BooBoo havia morrido ou desaparecido.
E o vizinho já estava implicando com o pobre gato, porque tinha
encontrado pegadas no vidro e no capô de seu carro. Pela forma como o homem
reagira, era de se imaginar que se tratava de um Rolls-Royce novinho em folha,
em vez de um Pontiac de dez anos com a lataria toda amassada.”
Umas qualidades de Linda Howard é contar uma história que não se
prende a apenas um casal ou personagem. Ela expande o universo de suas
histórias, dando aos personagens secundários histórias independentes, ainda que
estejam ligadas à trama central. Mas eles ganham vida própria, personalidade e
nos envolvem, tanto quanto os protagonistas.
E, como eu disse da primeira vez, este não é um texto como outros
em que os protagonistas se bicam no início e, logo depois estão sem enroscando.
Não, eles continuam se estranhando por um bom tempo.
Jaine já passara por três noivados, assim, está dando um tempo dos
homens. Ela compartilha suas histórias com suas três amigas e colegas de
trabalho. Todas as sextas elas se reúnem depois do trabalho em um bar local,
para tomar uma taça de vinho, jantar e jogar conversa fora. Era uma
necessidade, porque tralhavam em uma área dominada pelos homens, então
precisavam pôr os papos “mulherzinha” em dia.
Entre os assuntos, claro, predominava o sexo oposto e, em um
desses encontros, como acontece na vida real, as amigas expõem suas desventuras
com os machos da espécie.
“— Tive outro encontro com
meu vizinho hoje cedo – disse Jaine, suspirando ao apoiar os cotovelos na mesa
e colocar o queixo sobre os dedos entrelaçados.
— O que ele fez desta vez? – T.J. solidarizava-se com o caso,
porque, como todas sabiam, Jaine estava num beco sem saída, e vizinhos ruins
podem transformar sua vida num inferno.
— Eu estava com pressa e atropelei minha lata de lixo. Sabem
quando você está atrasada e faz coisas que nunca faria se estivesse saindo de
casa com calma? Tudo deu errado hoje de manhã. Enfim, a minha lata derrubou a
dele, e a tampa saiu rolando pela rua. Dá pra imaginar o barulho. Ele saiu de
casa batendo a porta, parecendo um urso selvagem, gritando que eu era a pessoa
mais barulhenta do mundo.
— Você devia ter chutado a lata para cima dele — disse Marci. Ela
não acreditava em oferecer a outra face.
— Ele teria me detido por perturbar a paz — respondeu Jaine,
amargurada. — O sujeito é policial.
— Mentira! —Todas pareciam incrédulas, isso porque as amigas
conheciam a descrição que Jaine dava do vizinho; olhos vermelhos, barba por
fazer e roupas sujas não criavam a imagem de um policial.
— Suponho que até policiais possam ser alcoólatras — disse T. J.,
ainda hesitante. – Talvez tenham até mais tendência a isso do que as outras pessoas.
Jaine franziu a testa, refletindo sobre o encontro daquela manhã.
— Pensando melhor, não senti cheiro de nada nele. O cara parecia
ter saído de uma bebedeira de três dias, só que não cheirava assim. Mas que
merda, detesto pensar que ele é mal-humorado daquele jeito quando não está de
ressaca.
— Pode pagar —disse Marci.
— Merda! —exclamou Jaine, irritada consigo mesma. Ela fizera um
acordo com as amigas que lhes daria vinte e cinco centavos sempre que xingasse,
imaginando que isso seria um incentivo para parar.
— Duas vezes — caçoou T.J., esticando a mão.
Resmungando, mas tomando cuidado para não usar qualquer palavrão,
Jaine pegou cinquenta centavos para cada uma. Atualmente, ela sempre se
certificava de carregar muitas moedas.
— Pelo menos ele é só seu vizinho — disse Luna, apaziguadora. — Você
pode evitá-lo.”
Conforme a conversa vai rolando, cada uma das amigas faz seu
desabafo, então surge a ideia de listar os requisitos para o que consideram um
homem perfeito que, segundo Jaine, não passava de ficção científica. Mesmo com
os primeiros itens sendo considerados necessários e idealizados por toda as
mulheres, os demais começaram a ser levados à base da brincadeira, como era de
se esperar durante uma conversa de bar. Marci começa a anotar as sugestões,
enumerando-as de acordo com as prioridades de cada uma.
Até aqui, nada demais.
As coisas começam a ficar estranhas quando a lista cai nas mãos de
outra colega de trabalho que, achando-a muito interessando, a publica no jornal
da empresa em que trabalham, tornando-a pública para desespero das quatro
amigas.
Obviamente, a lista divide opiniões; pondo em lados opostos
mulheres – que claramente concordam com os tópicos – e homens, que ficam muito
mexidos com alguns de seus itens.
Agora, além de ter que lidar com o gato da mãe, que está
destruindo suas almofadas, com seu vizinho assustador e com os egos ofendidos
de seus irmãos, Jaine também terá que enfrentar as piadas do pessoal do
trabalho e o assédio da imprensa, que também toma conhecimento da lista.
Para sua surpresa, o vizinho passa a ser o menor de seus
problemas. Melhor seria dizer que ele passa a ser a solução deles.
“Ela tomou café e
ficou observando o céu clarear. Era obvio que BooBoo já a perdoara por
acordá-lo cedo de novo, sentando ao seu lado e ronronando sempre que tinha as
orelhas distraidamente acariciadas.
O que aconteceu logo
em seguida não foi culpa dela. Jaine estava levando a caneca para a pia quando
a luz da cozinha na casa vizinha se acendeu e Sam surgiu.
Ela parou de respirar.
Seus pulmões entraram em pane, e ela parou de respirar
– Meu Senhor Jesus – disse Jaine, rouca, e
conseguiu puxar o ar.
Ela estava vendo mais
de Sam do que jamais imaginou que veria; estava vendo tudo, na verdade. O
vizinho estava parado diante da geladeira, nu em pelo. Jaine mal teve tempo de
admirar sua bunda antes de ele pegar uma caixa de suco de laranja, girando a
tampa no topo e inclinando o recipiente sobre a boca enquanto se virava.
Ela esqueceu
completamente a bunda. Sam era mais impressionante de frente do que de costas,
o que queria dizer muita coisa, porque seu traseiro era superfofo. O homem era
bem-dotado. [...].”
Impossível ler esse trecho, e o que vem a seguir, apenas uma vez
por leitura. Depois que descobriu que seu vizinho não era o alcoólatra terrível
que imaginara, até mesmo sua nudez passou a ser objeto de inspiração pra nossa
heroína.
Com o passar da leitura vamos descobrindo junto com a Jaine, que
Sam é muito mais do que um corpo másculo e delicioso. Até mesmo eu, que não
idealizo o homem perfeito, fico sonhando com alguém como ele.
Aliás, esta é outra das características das obras de Linda Howard.
Ela cria personagens que têm muitas qualidades, boas e ruins, o que os torna
muito críveis e desejáveis, tanto os masculinos quanto os femininos. Ela nos
faz rir e chorar com a mesma intensidade, sem exageros. Nos mantém conectados
às histórias que são contadas, fazendo com que desejemos que as pessoas ali
sejam reais.
Como policial, Sam acaba tomando a frente da série de situações
que surgem em decorrência da lista criada por Jaine e suas amigas. Pois, infelizmente,
ela também deixa as quatro amigas na mira de alguém que se sentiu
particularmente ofendido, afrontado, desafiado simplesmente por sua existência.
Sam e Jaine ainda vão passar por muitas situações, boas e ruins,
muito ruins. Mas sua história está longe de ser um romance adocicado. Na
verdade, vivemos com eles um mistério extremamente perigoso, a tensão aqui está
sempre presente.
Como disse há cinco anos, O Homem Perfeito é bem o estilo de livro
que amo ler, tem de tudo: humor, calorosas discussões, mistério, policial,
homens maravilhosos e mulheres fortes, todos bem próximos da realidade.
Sobretudo, é um material muito bem escrito que deixa saudade assim que
encerramos a leitura.
No mundo em que vivemos, cercados por notícias desagradáveis, por
corrupção, guerras, governantes intolerantes e egocêntricos, com a violência e
o descaso público imperando nas ruas de todo o Brasil, precisamos, mais que
tudo, de momentos de paz e entretenimento saudável. Este é o caso da leitura,
não importando o gênero, que vem nos levar para outros lugares, conhecer outras
pessoas e outras histórias.
Fico por aqui, agradecendo a todos por estarem sempre conosco e a
Bertrand pela publicação desta obra, desta autora. Vou ficar na torcida para
que este seja o primeiro de tantos outros que Linda Howard tem escrito e que
ainda não vieram para cá!
Fiquem bem e carpe diem.
Uhuuu! De volta! Amei!
ResponderExcluirFirmes e fortes, Lucimar!
ExcluirUm dos meus queridinhos!!!
ResponderExcluirVocê me apresentou a Linda há muito tempo e eu viciei!! Esse livro é delicioso do jeito que a gente gosta e acho que já li umas três vezes. Amo!
Feliz que ele finalmente foi publicado! 💕