na voz do
Pai, o desprezo.
O gesto
lindo torna-se inútil...
No canto
escuro, eu, o preço...
Meu Deus!
Janelas todas fechadas!
Meu Deus!
O corredor não tem fim!
Meu Pai,
enxota os pássaros negros que sobrevoam o meu jardim.
Eu só
queria ouvir e ser ouvido...
Correr ao
vosso encontro sem estar perdido.
Espalmar as
mãos magras, feias, estendidas...
Matar o
tempo, disfarçando vidas, vidas.
Senhor,
por que a gente só pensa em ler histórias que já foram lidas?
A rosa
nasce em lugar lamacento...
O homem
paga para gastar lamentos!
Eu só
queria ouvir e ser ouvido.
Correr ao
vosso encontro, sem estar perdido.”
“O preço”
– de Lão Goes – por Dom Inácio de Avelar
Olá, Envenenados!
Quando observamos nos noticiários em TVs, rádios e internet,
as inúmeras demonstrações diárias de intolerância a tudo que é diferente,
pensamos em como o ser humano pode ser cruel, injusto, leviano. Muitos, diante
de tantas atrocidades, dizem que é “o fim dos tempos”, que o juízo final está
próximo e, por aí vai, de acordo com as crenças ou a falta delas.
Mas tenho um alento aos mensageiros do Apocalipse de
plantão: a humanidade sempre demonstrou sua crueldade, com requintes, desde
seus primórdios.
Depois que inventaram as divisões territoriais, religiosas,
sociais e étnicas, a coisa só piorou.
Vejam bem, não estou fazendo apologia a nada, apenas
constatando fatos, nos quais venho pensando muito, devido a tantas ações
terroristas, extremistas, de políticos extremamente corruptos e cínicos, enfim,
de pessoas que não levam em consideração os outros, sejam eles culpados ou
inocentes.
Muitas vezes, tento me privar desses noticiários, me
embrenho no mundo dos meus amados livros, e dou umas férias para essa ansiedade
urbana.
Numa dessas fugas, fiz uma viagem impressionante à nossa
antiga Metrópole. Comecei a ler As Farsas dos
Moços de Capela, de Carlos Hiran Goes de Souza. Uma novidade da Eldorado,
que está começando com os dois pés no ramo editorial, além de manter a minha livraria preferida em pleno funcionamento.
Para variar, estava passando por lá e, claro, não me conformando em
paquerar a vitrine, entrei para cutucar meus queridos vendedores à procura de
novidades, sobretudo literatura de época.
Foi quando me apresentaram um livro cuja capa atraiu minha atenção
(apaixonada por História que sou), me informando que acabara de chegar e que
era uma edição da Eldorado. Frequentadora da livraria há mais de 10 anos,
fiquei muito feliz.
Mathilde, Carlos Hiran, eu e meu exemplar autografado! |
O gerente me informou que o autor, que não mora no Brasil, estaria aqui
para o lançamento do livro e convidou-me para um papo com Carlos Hiran.
O autor nos contou como se inspirou para contar a história dos Moços de
Capela. E foi assim que conheci uma história incrível que é um dos panos de
fundo da trama do livro. Trata-se da história do amor proibido entre o infante
D. Pedro, herdeiro do trono de Portugal, e Dona Inês de Castro, dama de
companhia de sua esposa Dona Constança Manuel. É gente, Portugal também é cenário
de romances, de amores impossíveis e dramas familiares e políticos em consequência.
“Apesar do casamento, o Infante marcava encontros românticos com Inês
nos jardins da Quinta das Lágrimas. Depois da morte de D. Constança em 1345, D.
Pedro passou a viver maritalmente com Inês, o que acabou por afrontar o rei D.
Afonso IV, seu pai, que condenava de forma veemente a ligação, e provocou forte
reprovação da corte e do povo.
Durante anos, Pedro e Inês viveram nos Paços de
Santa Clara, em Coimbra, com os seus três filhos. Mas com a crescente censura à
união, a corte pressionava constantemente D. Afonso IV, que acabou por mandar
assassinar Inês de Castro em Janeiro de 1355. Louco de dor, Pedro liderou uma
revolta contra o rei, nunca perdoando ao pai o assassinato da amada. Quando
finalmente assumiu a coroa em 1357, D. Pedro mandou prender e matar os
assassinos de Inês, arrancando-lhes o coração, o que lhe valeu o cognome de o
Cruel.
Mais tarde, jurando que se havia casado
secretamente com Inês de Castro, D. Pedro impôs o seu reconhecimento como
rainha de Portugal. Em Abril de 1360, ordenou a trasladação o corpo de Inês de Coimbra
para o Mosteiro Real de Alcobaça, onde mandou construir dois magníficos túmulos,
para que pudesse descansar para sempre ao lado da sua eterna amada.
Túmulos de Dona Inês e de D. Pedro |
Assim
ficaria imortalizada em pedra a mais arrebatadora história de amor portuguesa.”A Lenda de Pedro e Inês
Nossa história
começa dois séculos depois, quando dois jovens sacristães são envolvidos numa
trama (farsa) articulada pela Corte portuguesa e pela Igreja, com objetivos
distintos.
D. João III, então
rei de Portugal, almeja desaparecer com as lembranças de D. Inês de Castro, a
Rainha Morta, já a Igreja (ou uma parte considerável dela) busca razões para
instaurar definitivamente a inquisição em terras lusitanas.
Com uma escrita
impecável, Carlos Hiran conta essa história, onde realidade e ficção se fundem
e se confundem, e nos leva por algumas ruas de Portugal, nos faz caminhar por
corredores de mosteiros, acompanhar personagens enigmáticos – uns manipuladores,
outros manipulados, e viver momentos de incertezas, onde a inocência não é
motivo para recuar com manobras sombrias, vis e insanas.
Como o autor me
explicou, “farsas” vão muito além com nosso conhecimento comum (s.f. Mentira; ação ou comportamento ardiloso que induz ao engano.
P.ext. Embuste; ação que busca iludir; em que há fingimento. Teatro. Peça
cômica de teor popular, simples, burlesca em que o ridículo prevalece: os
alunos encenavam uma farsa na peça do colégio. P.ext. Narrativa engraçada,
burlesca que busca entreteter por meio do riso. Comédia de nível
inferior, ruim. Tudo o que tem uma essência burlesca, cômica (Etm. do
francês: farse; do latim: farsus). Elas não dizem
respeito apenas a mentiras, embustes e com a leitura a gente vai percebendo
isso, mas estão bem longe de serem uma comédia, boa ou ruim.
Não sou uma analista
literária, sou apenas uma leitora, e quero explicar a minha colocação no início
da postagem.
Quando estava no
penúltimo capítulo do livro, lembrei-me das perseguições que o mundo tem
presenciado, sejam elas por diferenças raciais, políticas, religiosas ou
sexuais.
Pensei na soberba de
algumas pessoas que usam a religião, ou outro tema, para se autoproclamarem donos da verdade absoluta,
seres superiores que se dão o direito de capturar, julgar e condenar todos os
que têm um pensamento diferente, não importando se esse pensamento os prejudica
ou não.
A inquisição
agiu dessa maneira durante muito tempo, ceifando incontáveis vidas, por motivos
muitas vezes torpes. Aliás, matar em nome de Deus? Quer motivo mais torpe?
Essa
é uma trama, despretensiosa, que impressiona pela inteligência ao contar as
aventuras, as dúvidas, as angústias dos protagonistas e como foram usados em
sua inocência e fé para atingirem objetivos que eles sequer sonhavam. Uma
história sobre traição, fé, medos, libertação e esperança.
Como
Carlos Hiran mesmo diz, ele não teve a intenção de reproduzir fatos fielmente,
nem de manchar o nome de nenhum personagem histórico, nem ferir nenhuma
religião.
Mas
conseguiu despertar em mim uma curiosidade pela história pouco conhecida de
nossa antiga Metrópole e seus personagens inusitados.
Quanto
à edição, este é um belo começo na estrada editorial da Eldorado que conseguiu
respeitar a linguagem usada pelo autor (bem dentro dos padrões do português de além-mar),
mas que não nos impede de compreender bem e vivenciar a história como se dela
fizéssemos parte.
Quisera
eu poder contar todas as aventuras de Augusto e Lucas, dois meninos sem família
e acolhidos e doutrinados pela Igreja. Uma história diligentemente contada em
primeira e terceira pessoas, que eu adoraria passar muito tempo comentando. Mas
deixo que vocês tenham a oportunidade de conhecer mais de perto e se encantarem
tanto quanto eu.
Parabéns,
Carlos Hiran e Eldorado pela obra que hoje faz parte da minha lista de
preferidos!
E assim, deixo vocês, desejando um dia maravilhoso e cheio de boas
histórias para contar!
Fiquem bem e Carpe Diem!
Tânia, querida, fiquei muito curiosa em ler este romance e fascinada com a história de amor que desconhecia (a história da humanidade está cheia delas, que enchem o nosso coração de emoção quando as encontramos). Sabes que compartilho desse amor pela história e gostaria de agradecer mais uma vez pela dica. Certamente é um livro que quero muito ler.
ResponderExcluirBeijos!!
Oi querida!
ExcluirCertamente você vai gostar, espero que me conte depois. Quando o autor me falou sobre como a história de Pedro e Inês foi uma das inspirações para seu livro, fiquei fascinada, parecia ficção. Sabia que ela deu origem à expressão "É tarde, Inês é morta"? Isso descobri buscando mais informações sobre a história!
Pois é, vivendo, lendo e aprendendo!
Beijo querida amiga.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirFiquei encantada e muito curiosa com essa história, tem uma premissa muito promissora e bacana, simplesmente adorei, vou correr atrás desse livro, hahaha.
Estou seguindo e amando o blog <3
Beijos.
Tenho um blog no qual falo sobre filmes, series e cultura no geral. Se puder dar uma conferida ficarei muito grata: http://cineleva.blogspot.com/ :)
Oi Wilma!
ExcluirQue bom que você gostou, a história é mesmo muito interessante e o autor consegue nos surpreender até o fim!
Vou passar lá no seu espaço, sim!
Beijão
Olá Tânia! !! Fiquei bastante interessada... mas confesso que procurei e não achei, você pode me indicar um lugar para comprar?! Beijos e muito obrigada
ResponderExcluirBoa noite, querida!
ExcluirMe informei com o pessoal da Eldorado e eles me disseram que você pode entrar em contato pelo eldorado@superig.com.br
Ou dê uma conferida no site da livraria. www.livrariaeldorado.com.br
Obrigada por comentar!
Boa leitura