e não tivesse amor, seria como o metal que soa
ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, ... e
não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna
para sustento dos pobres,
e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado,
e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso;
o amor
não trata com leviandade, não se ensoberbece...
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...
Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino,
discorria como menino, mas,
logo que
cheguei a ser homem, a
cabei com as coisas de menino.
Coríntios 13”
Olá,
Envenenados!
Mais
uma sexta gloriosa para nossas vidas.
Mas
uma coluna recheadinha de delícias literárias para satisfazer nossos corações.
A novidade hoje é a minha primeira vez com a Sarah MacLean, que
também estreia na coluna e no blog.
Toda a primeira vez sempre gera muita expectativa e, ao contrário
de muitas que são decepcionantes, esta foi extraordinária.
Não resisti à leitura de Entre o Amor e a Vingança, publicado
recentemente pela Editora Gutenberg.
Este livro, que é o primeiro da Série O Clube dos Canalhas, teve
um efeito inesperado em mim, pois me fez relembrar o tempo de escola, o tempo
dos amores mais dolorosos que podemos sentir, que são as paixões adolescentes.
Mas também me aqueceu com seu ritmo, com sua trama e seus personagens ímpares.
Ele conta a história do marquês de Bourne e Penélope Marbury.
“Uma década atrás, o marquês de
Bourne perdeu tudo o que possuía em uma mesa de jogo e foi expulso do lugar
onde vivia com nada além de seu título. Agora, sócio da mais exclusiva casa de
jogos de Londres, o frio e cruel Bourne quer vingança e vai fazer o que for
preciso para recuperar sua herança, mesmo que para isso tenha que se casar com
a perfeita e respeitável Lady Penélope Marbury.
Após um noivado rompido e
vários pretendentes decepcionantes, Penélope ficou com pouco interesse em um
casamento tranquilo e confortável, e passou a desejar algo mais em
sua vida. Sua sorte é que seu novo marido, o marquês de Bourne, pode
proporcionar a ela o acesso a um mundo inexplorado de prazeres.
Apesar de Bourne ser um
príncipe do submundo de Londres, sua intenção é manter Penélope intocada por
sua sede de vingança – o que parece ser um desafio cada vez maior, pois a
esposa começa a mostrar seus próprios desejos e está disposta a apostar
qualquer coisa por eles…
…até mesmo seu coração.”
Obviamente este trecho não tem nada a ver com minhas
lembranças juvenis. Mas o desenrolar da história sim.
Bourne e Penélope cresceram muito próximos, tiveram uma
infância rica de aventuras e compartilharam momentos inesquecíveis, aprontaram,
pescaram, divertiram-se e, mesmo quando ele chegou à idade em que deveria
ingressar no famoso Eton College, eles mantiveram-se unidos, ainda que por
correspondências.
Mas o que acabou distanciando-os, em primeiro lugar, foi a
morte dos pais de Michael, que começou a fechar-se, a afastar-se. Na verdade,
ele deixou de responder às cartas que Penélope enviava, quase que
religiosamente, para o querido amigo.
Enfim, o tempo e as circunstâncias se encarregam de nos
transformar, principalmente quando são mais complicadas para uns que para
outros. Mas essa complicação varia de acordo com o ponto de vista, não é
verdade?
O marquês de Bourne, então com 21 anos, aposta e perde tudo
que herdou, exceto o título, num jogo no qual, obviamente, acreditava ser o
vencedor – não é assim que se sentem os viciados, no deslumbre de várias
rodadas vencendo, acreditando que a sorte jamais os abandonará.
“Seus olhos se abriram e focaram no homem do outro lado da
mesa, cruzando com o frio olhar cinzento que conhecia por toda a vida. O visconde
de Langford havia sido amigo e vizinho do pai, escolhido a dedo pelo velho
marquês de Bourne para ser guardião de seu único filho e herdeiro. Depois da
morte dos pais, Langford foi escolhido para proteger o marquesado de Bourne,
aumentar o patrimônio em dez vezes e garantir sua prosperidade. E então, o
havia tomado. Vizinho, talvez. Amigo, jamais. O jovem marquês se viu atingido
pela traição.”
Esta seria a última vez que Penélope ouviria notícias a
respeito do amigo, que há muito não via.
Mesmo assim, ela insistia em escrever as cartas.
Aí a gente se pergunta: por que continuar a escrever para
alguém que, aparentemente, nem se lembra mais de nós?
Que tolinha, a Penélope...
Só que não.
Na verdade, eu consigo me identificar com ela neste ponto.
Sinto uma saudade tão grande dos amigos da minha infância, da
minha adolescência. Sei que muitos sequer se lembram que eu existi, mas
lembro-me bem de cada um deles. Eles estão em minhas melhores lembranças, mesmo
aquelas mais constrangedoras e, por incrível que pareça, estão exatamente como
eram: jovens, sorridentes, atrapalhados, implicantes, generosos ou mesquinhos,
tímidos ou fofoqueiros. Estão aqui comigo, neste exato momento: as meninas com
quem eu me confidenciava, com quem conversava, com quem discutia; os rapazes que
implicavam comigo, os que me ajudavam, ou pelos quais me apaixonei... e nossa,
como era bom viver tudo aquilo!
Foi esta minha doce lembrança, esta minha emoção mais pura
que emprestei à personagem Penélope no que diz respeito ao que esperava
encontrar em seu amigo mais querido.
A gente acredita que vai encontrar nossos velhos conhecidos,
tal qual eles eram. A princípio, somos tomados pela estranheza ao perceber que
não fomos nós apenas que fomos moldados pelo tempo. E ficamos observando,
esperando que, a qualquer instante, aquele jovem inconsequente salte bem diante
dos nossos olhos.
E, nesta esperança, Penélope continuou escrevendo para
Michael, mesmo que fosse, mais para consolo próprio.
Durante o tempo em que não teve notícias do marquês de Bourne,
por ele mesmo, Penélope foi apresentada à sociedade, transformando-se na joia
da temporada, até ser pedida em casamento e ver seu noivado ser rompido, uma
vez que seu pretendente estava apaixonado por outra mulher. A partir de então,
ela veria sua vida marcada pelas incertezas, pelas cobranças da família e da
sociedade. Ela recebe outras propostas, mas as rejeita, pois mesmo tendo sido
educada para aceitar que o casamento era simplesmente uma transação, quase que
comercial, ela espera algo mais.
Enfim, o desastre do rompimento deixa rastros desagradáveis
para ela e suas irmãs. Mas de repente ela,
que não acreditava que receberia mais nenhuma proposta, se vê em uma situação
inusitada.
“Lady Penélope Marbury, nobre e bem-nascida, sabia que
deveria se sentir bastante grata quando, em uma fria tarde de janeiro, do alto
dos seus 28 anos de idade, recebeu o quinto (e provavelmente o último) pedido
de casamento. Ela sabia que metade de Londres não a consideraria totalmente
fora de si, caso viesse a se unir ao excelentíssimo Sr.Thomas Alles de joelhos e
agradecesse a ele e ao Criador pela oferta amável e extremamente generosa. Para
uma mulher não tão jovem, com um noivado rompido e apenas um punhado de
pretendentes no passado, o cavalheiro em questão era bem-apessoado, gentil,
tinha todos os dentes e a cabeça coberta de cabelos – uma combinação rara de características.”
Este pedido, tão aguardado pela família, seria irrecusável se
não estivesse sendo feito por outro amigo de infância, o outro componente do
trio, aquele que se juntava a ela e a Michael em suas aventuras. Por que ela,
por que naquele momento?
A resposta é o cerne da história de Entre o Amor e a
Vingança: o pai de Thomas é lorde Longford, o mesmo que tirou tudo de Michael
num jogo de cartas. Acontece que Longford acaba perdendo terras que fazem parte
daquela herança da mesma forma para o pai de Penélope.
Assim, para facilitar as coisas para as jovens Marbury, seu
pai acrescenta as terras ao dote de Penélope, certo de que irão chover
propostas.
Ela não acha justo, claro, ficar com as terras vizinhas que
pertencem por direito a seu querido amigo. Mas como a mulher não tinha escolha
neste período, não vê alternativas para seu destino.
Ao ficar sabendo que suas terras agora fazem parte do dote de
Penélope, Bourne, pela primeira vez em anos, consegue vislumbrar a realização
de sua vingança. Decide que se casará com ela, reaverá suas terras e se vingará
de Longford.
Simples assim: ele decide e parte pro abraço.
Ela, que romantiza o antigo amigo de infância, se depara com
um homem estranho, sombrio e rude que parece ter enterrado para sempre a
lembrança de tudo que passaram juntos.
Estou abalada pela força desse livro, que possui os
ingredientes necessários para a construção de uma história arrebatadora e
imprevisível: inocência roubada, herança, humilhação, vingança, manipulação,
traição, arrogância, erotismo, confiança e personagens que vão ganhando força à
cada página.
Uma verdadeira montanha russa emocional, pois Bourne conseguiu
me irritar em boa parte do livro. Homem danado de ruim, eu pensava. Por
outro lado, não foi à toa que ele virou o absinto de hoje, pois vem ser bonito,
gostoso e sedutor assim aqui em casa.
Por sua vez, Penélope não é aquela mocinha coitadinha, que se
vê obrigada a seguir o destino que os homens traçaram para ela. Não. Ela sabe
seu papel, aceita-o, mas vai barganhar pelo seu estilo de vida e veremos crescer uma
mulher capaz de lutar pela liberdade, pela aventura, pela própria felicidade, por tudo aquilo que lhe é mais precioso.
Ferran Calderon |
Apesar do clima tenso e desolador que alinhava a vida de nossos
protagonistas, eles terão sua cota de humor, de delicadeza e sensualidade.
“Eu vou explorar você... descobrir seu calor e sua maciez,
cada pedaço do seu prazer. Ele a acariciou, sentido a forma como ela pulsava ao
seu redor, adorando a maneira como ela balançava os quadris contra ele,
enquanto o polegar percorria um pequeno círculo em torno da túrgida saliência de
prazer que ele havia desvelado. Você me faz salivar.”
Mal posso esperar pelo próximo livro da série O Clube dos
Canalhas, só espero que os editores atentem um pouco mais para evitar alguns
deslizes que ocorreram neste primeiro. Claro, nada que desmerecesse a história, que é simplesmente maravilhosa.
Mais uma autora incrível que entra para o rol das minhas
favoritas: Sarah MacLean – onde eu estava que ainda não tinha lido nada dela??
Até a próxima, meus queridos, fiquem bem e “Carpe Diem quam minimum
crédula póstero.”
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