Sexta Envenenada: Ligeiramente Maliciosos

Quero beber o mel de sua boca
Como se fosse uma abelha rainha
Quero escrever na areia sua história
Junto com a minha
E no acorde doce da guitarra
Tocar as notas do meu pensamento
E em cada verso traduzir as fibras
Do meu sentimento
Que estou apaixonado
Que este amor é tão grande
Que estou apaixonado
E só penso em você a todo instante
Eu quero ser o ar que tu respiras
Eu quero ser o pão que te alimenta
Eu quero ser a água que refresca
O vinho que te esquenta
E se eu cair, que caia em seu abraço
Se eu morrer, que morra de desejo
Adormecer dizendo que te amo
E te acordar com um beijo
Que estou apaixonado
Que este amor é tão grande
Que estou apaixonado

Olá, Envenenados!

Estamos de volta com mais uma Sexta delirante.
É surpreendente nossa capacidade de evoluir em tantas áreas do conhecimento. Esta capacidade, para alguns, facilita a compreensão e, até mesmo, aceitação de situações que inicialmente não entendemos, de ideias contrárias às nossas.
Durante aulas de história, sociologia e filosofia ouve-se muito a palavra contexto: “é preciso observar o contexto em que viviam, vivem...” dizem teóricos e professores.
De fato.
Contexto é tudo.
E, conforme evoluímos (ou não, daí coloquemos a culpa no contexto) também com a idade, alguns pensamentos também amadurecem e nos deparamos com perspectivas completamente inusitadas.
Pode não ser novidade para algumas pessoas, mas para uma mulher declaradamente avessa aos contos de fadas é relativamente surpreendente compreender, finalmente, o por que da fragilidade e submissão das mulheres, tendo em vista o contexto em que viviam.
Nunca entendi toda aquela expectativa das donzelas como Cinderela, Branca de Neve, Aurora (A Bela Adormecida) e Rapunzel (não a de Enrolados), por ter seus infortúnios definitivamente resolvidos por um cabra lindão, montado num cavalo (geralmente branco – preconceito?).
Tá, eu entendia, mas não aceitava.
Hoje entendo ainda mais e aceito.
Devo parte desse entendimento aos romances de época que, através de suas histórias, descortinam a realidade, o contexto das mulheres daquele tempo.
Mas vou tentar me alongar mais neste assunto numa outra oportunidade.
Toquei no assunto, porque minha última experiência com romance de época, que trouxe hoje para falar com vocês, me fez refletir bastante sobre isso.
Por isso disse que a Sexta seria delirante. Acabei de ler Ligeiramente Maliciosos, da Mary Balogh. Este é o segundo livro da série Os Bedwyns, publicado recentemente pela Editora Arqueiro.
Fico muito preocupada em ser repetitiva, mas devo lembrar que este cantinho é para os absintos que realmente me fascinam. Então, é impossível não ser redundante quando o assunto é citar as qualidades dos livros e personagens na Sexta Envenenada, sem falar das autoras e, muitas vezes, das editoras também, independentemente de parceira. Porque nossa preocupação está na qualidade do livro, seja no material, na edição, na história, na maneira como foi escrita, nos personagens...
O que todo leitor deseja, acredito eu, é fazer amor com seu livro, é entrar na história, é, ao abrir suas páginas, cruzar uma porta e fazer parte daquele momento, ainda que como expectador.
Muitas vezes me pego discutindo com o personagem, reclamando de alguma situação, me sentindo acuada em outras, ou incentivando... isso é normal.
E foi assim que me vi durante toda a leitura de Ligeiramente Maliciosos.
Judith Law é a segunda filha, de um total de cinco, de um reverendo bastante rígido (como deveria ser, claro), que se vê em uma situação muito comum no século XIX, e por que não dizer, até hoje isso ainda acontece.
Quando o único filho, que por ser homem tem todos os privilégios que seu gênero lhe garante, dilapida as já contidas economias de sua família, o reverendo pede ajuda a sua irmã, casada com um baronete.
Assim, a tia de Judith considera justo que o irmão envie uma das filhas para ajudá-la enquanto ela organiza a temporada de bailes e festas em sua propriedade, com vistas a comprometer sua filha com o filho de um duque: Rannulf Bedwyn.
A única dificuldade que tive nesses dois romances da Mary Balogh foi tentar pronunciar os nomes dos personagens masculinos, alguns femininos também, mas nada impediu que eu me apaixonasse, no melhor estilo Mr. Darcy, ardentemente, pela história.
Rannulf é irmão do duque de Bewcastle, cujo livro estou aguardando com ansiedade, de Lorde Aidan, protagonista de Ligeiramente Casados, mas tem outros três irmãos mais novos, um rapaz e duas moças.
Sua avó o elegeu como herdeiro de sua fortuna e decidiu que não morrerá sem que o case com uma moça de sua escolha. Assim, a seu pedido, Rannulf parte para encontrá-la e conhecer a mais nova candidata a noiva.
No finalzinho de Ligeiramente Casados, ele, que foi o único irmão que não apareceu durante toda a história, é finalmente apresentado a Eve, esposa de Aidan, quando este volta para ocupar seu lugar de direito. Neste momento, Rannulf está a caminho da propriedade da avó e aproveita a viagem para conhecer a cunhada.
O que começa como uma viagem forçada, pois como todos os Bedwyns, ele não tem interesse em se casar tão cedo (pelo menos os homens da família), acaba se transformando em uma experiência que poderá mudar sua vida para sempre.
“Após sofrer um acidente com a diligência em que viajava, Judith Law fica presa à beira da estrada no que parece ser o pior dia de sua vida. No entanto, sua sorte muda quando é resgatada por Ralf Bedard, um atraente cavaleiro de sorriso zombeteiro que se prontifica a levá-la até a estalagem mais próxima.
Filha de um rigoroso pastor, Judith vê no convite do Sr. Bedard a chance de experimentar uma aventura e se apresenta como Claire Campbell, uma atriz independente e confiante, a caminho de York para interpretar um novo papel. A atração entre o casal é instantânea e, num jogo de sedução e mentiras, a jovem dama se entrega a uma tórrida e inesquecível noite de amor.
Judith só não desconfia de que não é a única a usar uma identidade falsa. Ralf Bedard é ninguém menos do que lorde Rannulf Bedwyn, irmão do duque de Bewcastle, que partia para Grandmaison Park a fim de cortejar sua futura noiva: a Srta. Julianne Effingham, prima de Judith.
Quando os dois se reencontram e as máscaras caem, eles precisam tomar uma decisão: seguir com seus papéis de acordo com o que todos consideram socialmente aceitável ou se entregar a uma paixão avassaladora?”
Da maneira como se conhecem e se envolvem, o que é surpreendente, até o momento em que se reencontram e passam a viver situações tensas, não conseguimos parar a leitura. É algo magnético, pois impressiona a capacidade da autora de criar e contar história.
As emoções que foram despertadas no decorrer da leitura foram variadas.
Judith, apesar de sua condição social, está longe de ser digna de pena, ela é digna de tudo, menos de pena. Aliás, esta é uma personagem extremamente digna, apesar de tudo.
Ela se entrega a um desejo, na esperança de guardar consigo uma boa lembrança, pois a única certeza que tem é a de uma vida de servidão, relegada ao lugar de parente pobre que está ali apenas por necessidade. E ela seguiu este caminho por escolha (ainda que não houvesse outras opções), pois ela é muito consciente da real situação de sua família e da própria dentro da família.
Desde cedo seus pais fizeram de tudo para esconder seus atributos, principalmente seus cabelos ruivos, que deviam ficar sempre ocultos por toucas simplórias.
Assim, sentindo-se desfavorecida em tantas coisas, ela decide, em prol da família, mas principalmente de suas amadas irmãs, ela “se oferece” para ajudar a tia e servir de companhia para avó.
Durante a viagem, como vimos na sinopse, a diligência onde viajava capota devido ao solo castigado pela chuva. Durante este infortúnio ela conhece Ralf Bedard.
Ele se oferece para pedir ajuda e levá-la consigo. E, mesmo ocultando suas verdadeiras identidades e realidades, eles dão início a um jogo de sedução do qual nunca mais se esquecerão.
Mas, nada dura para sempre, e quando voltam à realidade, Judith é acolhida na residência de seus tios, onde não será uma hóspede querida, e sim alguém que deverá dar duro para compensar sua estadia. E, pior de tudo, terá sua história descortinada quando o candidato a noivo de sua fútil prima é apresentado à família.
Não há como fugir, não há como se esconder, pois diante de seus olhos está o cavalheiro que a resgatou e com quem passou duas noites de muita intimidade. O que fazer?
Foi neste ponto da história que começou minha análise do contexto em que ela é contada.
Numa sociedade que favorecia apenas aos homens, não importando sua classe social, dá para entender quando uma jovem como Judith se entrega a uma aventura efêmera, para que possa ter uma doce lembrança nos duros anos que estão por vir. Sem esperança de uma vida estável, de um bom casamento e assistindo a ruína de sua família, causada justamente pelo favorecimento ao irmão inconsequente, ela vive momentos de fantasia e muita paixão com Ralf (Rannulf) Bedard.
Ela acreditava que poderia guardar esses momentos só para si, como consolo de tudo o que não poderia ter, principalmente porque acreditava que nunca mais o veria. Só que não.
Para Rannulf (minha mais nova paixão literária, que leitora volúvel me tornei), o encontro com Claire (Judith) Campbell foi algo revelador, pois, ainda que sua sexualidade fosse normal e saudável, aqueles momentos que teve com aquela atriz talentosa não deveriam terminar tão cedo.
Depois de ser deixado para trás apenas com um bilhete de despedida, ele segue viagem para a residência de sua avó. Ao chegar percebe como a saúde desta está debilitada, embora ainda continue altiva.
Ele também experimentará momentos de confusão em sua vida. Como herdeiro da avó, terá que decidir como conciliar suas obrigações com o que é melhor para ele. Está entre a cruz e a espada, pois deseja garantir que fará uma boa escolha, preocupado com a saúde da avó, ao mesmo tempo em que precisa ser honrado e assumir as consequências de seus atos com a jovem Judith Law.
É disso que sempre falo aqui, quando escrevo sobre os romances de época. É claro que quase nada era tão bom há dois séculos. As pessoas passavam por privações diversas, muitas eram canalhas, mesquinhas, como alguns personagens que vemos nesses romances.
Mas o que os tornam livros únicos é exatamente esta abordagem sobre hombridade, honestidade, justiça e tantos outros valores já tão perdidos nos dias atuais.
Não se trata apenas do amor, da sedução, de cenas de sexo pra lá de envolventes.
Trata-se de falar de compromisso com o outro, mas sobretudo consigo também: o que é dever, o que te deixa em paz com sua consciência sem ferir, sem prejudicar ninguém. É assim que nascem os heróis e as heroínas.
Os heróis de verdade não precisam ser fisicamente imbatíveis, eles são feitos de outro material: desses valores dos quais falei e de algo também muito raro que é a empatia. Essa capacidade de compartilhar os sentimentos alheios, de ser incapaz de seguir em frente com a própria vida sem se comprometer com o outro.
É este tipo de herói que vemos em Ligeiramente Maliciosos. E estas qualidades não se limitam apenas ao protagonista, mas também aos seus irmãos e irmãs, sobretudo ao imponente duque de Bewcastle.
Meus queridos, este romance tem todos os ingredientes necessários para funcionar lindamente: temos vilões inescrupulosos, mocinhas fúteis e desmioladas, uma tia no melhor estilo madrasta, avós que encantam como fadas madrinhas, uma mocinha vulnerável por sua posição social e familiar, mas nunca indefesa nem incapaz, e um mocinho imperfeito que descobre o amor onde menor esperava – dentro dele mesmo e possuidor de um nariz que eu quero muito.
Estou enamorada, por Judith, por Rannulf, enfim por Mary Balogh.
E assim, deixo vocês, com uma vontade enorme de reler e reler maliciosamente Ligeiramente Maliciosos, quem sabe até mesmo Ligeiramente Casados... oh Arqueiro, flechaste meu coração mais uma vez!
Fiquem bem e Carpe Diem!

Um comentário

  1. Olá,
    nossa esse livro esta dando o que falar, eu amie de mais a capa dele, acho o trabalho grafico da Arqueiro muito bom, tenho visto poucas resenhas, mas pretendo ver mais antes de compra-lo
    Bjks, já estou te seguindo
    Passa Lá No Meu,Tem Resenha Nova - http://ospapa-livros.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

Destile seu veneno, comente!