1º Batalhão
da Brigada de Rifles
Cabo Mapan
Crimeia
Junho de 1855
Caríssimo Christopher,
Não posso mais escrever para você.
Não sou quem acha que sou.
Não tinha a intenção de enviar cartas de
amor, mas foi isso que elas se
tornaram. No caminho até você, as palavras
se transformaram nas batidas
do meu coração gravadas em papel.
Volte, por favor, volte para casa e descubra
quem sou.
(sem assinatura)
Olá, Envenenados!
Estamos de volta com mais uma Sexta Envenenada nesse mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher.
Hoje trago para compartilhar com vocês o derradeiro livro da série
Os Hathaways, Paixão ao Entardecer, da diva Lisa Kleypas, dos Romances de Época
da Editora Arqueiro.
Se ficamos com depressão pós leitura quando encerramos um livro, o
que dizer quando encerramos uma série? Multiplique por vezes infinitas quando
cada um dos livros dessa série é espetacular.
Em Paixão ao Entardecer, finalmente conhecemos a história de
Beatrix Hathaway, a irmã caçula de Leo, Amelia, Win e Poppy, e cunhada de Cam,
Marripen, Catherine e Harry.
Sempre me perguntei como seria a história da mais excêntrica dos
Hathaways.
Há séries em que alguns livros são mais marcantes que outros, há algumas
em que há uma enorme expectativa sobre tal personagem e, às vezes, seu livro
não atinge essas expectativas.
No caso de Os Hathaways todos os livros são surpreendentes. Lisa
consegue fazer uma conexão maravilhosa entre todas as histórias, não permitindo
que os personagens se percam, ainda que se tornem coadjuvantes.
Talvez por ser bem novinha quando a série começou, cheia de manias
e muito “estranha”, do ponto de vista da sociedade da época, era difícil
imaginar Beatrix vivendo ou sentindo uma paixão intensa.
Mas era de se esperar, talvez por seu caráter forte e sua intensa
capacidade de cuidar dos necessitados em tantos sentidos, que ela, quando
chegasse o momento de descobrir o amor, também o vivesse como se fosse a última
coisa a fazer na vida.
“Mesmo sendo uma família
nada tradicional, quase todos os irmãos Hathaways se casaram, até mesmo Leo,
que era o mais avesso a essa ideia. Mas para a caçula Beatrix, parece não haver
mais esperança. Dona de um espírito livre, apaixonada por animais e pela
natureza, Beatrix se sente muito mais à vontade ao ar livre do que em salões de
baile. E, embora já tenha frequentado as temporadas londrinas e até feito algum
sucesso entre os rapazes, nunca foi seriamente corteja, tampouco se encantou
por nenhum deles. Mas tudo isso pode mudar quando ela se oferece para ajudar
uma amiga. A superficial Prudence recebe uma carta de seu pretendente, o capitão
Christopher Phelan, que está na frente de batalha...”
Para
Christopher Phelan, segundo filho na linha de sucessão, o mais importante era
aproveitar a vida e poder expor sua aparência exuberante em Londres, onde
obviamente fazia muito sucesso entre as damas; beber, dançar, jogar, comprar
roupas elegantes e experimentar tórridos e escandalosos casos amorosos.
Arrogante,
ele jamais imaginaria que sua vida mudaria radicalmente, principalmente depois
de comprar sua patente de oficial do Exército. O que era esperado do segundo
filho e a combinação perfeita com seu modo de encarar a vida, levou-o à guerra,
ao distanciamento da família, dos amigos, enfim, de tudo o que amava, incluindo
a mulher que ele acreditava ser perfeita para ele.
“Tudo começou com uma carta.
Para ser mais exato, com a
menção a um cão.
– E o cachorro? – perguntou
Beatrix Hathaway. – De quem é?
A amiga dela, Prudence, beldade
suprema do condado de Hampshire, ergueu os olhos da carta que recebera de seu
pretendente, o capitão Christopher Phelan.
Embora não fosse apropriado que
um cavalheiro se correspondesse com uma moça solteira, eles haviam conseguido
organizar a troca de cartas usando a cunhada de Phelan como intermediária.
Prudence fez uma careta
zombeteira para a amiga.
– Sinceramente, Bea, você parece
muito mais preocupada com um cachorro do que jamais esteve em relação ao capitão
Phelan.
– O capitão Phelan não precisa
da minha preocupação – disse Beatrix num tom prático. – Ele já conta com a
atenção de todas as senhoritas casadouras de Hampshire. Além do mais, foi ele
quem escolheu ir para a guerra, e estou certa de que está se divertindo por aí
em seu uniforme elegante.
– Não tem nada de elegante – foi
o comentário irritado de Prudence.(...)
– Leia você mesma.
– Mas Pru... – protestou
Beatrix, quando as folhas pequenas e elegantes da carta foram enfiadas em suas
mãos. – O capitão Phelan pode ter escrito algo pessoal.
– Que sorte a minha se isso
fosse verdade! A carta é absolutamente deprimente. Não fala de nada além de
batalhas e más notícias.
Embora Christopher Phelan fosse
o último homem que Beatrix tivesse a intenção de defender, ela não conseguiu
evitar o comentário:
– Ele está lutando na Crimeia,
Pru. Creio que não haja muitas coisas agradáveis sobre as quais escrever em
tempos de guerra.
...
–
Tudo bem. Se você tem certeza de que não se importa de eu ver a carta do
capitão Phelan, vou ler apenas a parte sobre o cachorro.
–
Vai dormir muito antes de chegar ao cachorro – comentou Prudence, enfiando um
grampo na trança com habilidade.
...
Cara Prudence,
Estou sentado nesta barraca
empoeirada, tentando pensar em algo eloquente para escrever. Mas encontro-me
num beco sem saída. Você merece lindas palavras, mas tudo o que me resta são
estas: penso em você constantemente. Imagino esta carta em suas mãos e o aroma
do perfume em seu pulso. Quero silêncio e ar puro, e uma cama com um
travesseiro branco e macio...
... Dois dias atrás, em nossa
marcha pela costa, em direção a Sebastopol, enfrentamos os russos no rio Alma.
Disseram-me que foi uma vitória do nosso lado. Não me pareceu. Perdemos pelo
menos dois terços dos oficiais do regimento e um quarto dos que não eram
oficiais. Ontem, cavamos sepulturas. Fizeram a última contagem dos mortos e
atualizaram a lista de baixas. São 360 britânicos mortos até agora... e o
número continua a aumentar, à medida que mais soldados sucumbem aos ferimentos.
Guerra da Crimeia |
Um dos que caíram, o capitão
Brighton, trouxe um terrier de pelo duro, chamado Albert, que com certeza é o
cão mais malcriado que já existiu. Depois que Brighton foi enterrado, o animal
se sentou ao lado da sepultura e ganiu horas a fio, tentando morder qualquer um
que se aproximasse. Cometi o erro de oferecer a ele um pedaço de biscoito e
agora a criatura ignorante me segue por toda parte. Neste momento o cachorro
está sentado na minha barraca, me encarando com olhos ensandecidos. Raramente
para de ganir e, sempre que chego perto, tenta cravar os dentes no meu braço.
Tenho vontade de dar um tiro nele, mas estou cansado de matar.
Famílias estão de luto pelas
vidas que tirei. Filhos, irmãos, pais. Já consegui um lugar no inferno pelas
coisas que fiz, e a guerra mal começou. Estou mudando, e não é para melhor. O
homem que conheceu sefoi para sempre e temo que você não vá gostar nem um pouco
daquele que ficou em seu lugar.
O cheiro da morte, Pru... está por
toda parte.
O campo de batalha está cheio de
corpos mutilados, de roupas, de solados de botas. Imagine uma explosão capaz de
arrancar as solas dos seus sapatos. Dizem que, depois de uma batalha, as flores
silvestres são mais abundantes na estação seguinte – o solo está tão revolvido
e arrebentado que as novas sementes têm mais espaço para criar raízes. Quero me
lamentar e sofrer, mas não há espaço para isso. Nem tempo. Tenho que deixar
meus sentimentos de lado, em um canto qualquer.
Ainda há um lugar tranquilo no
mundo? Por favor, escreva para mim. Conte-me um pouco sobre os seus bordados ou
fale de sua música favorita. Está chovendo em Stony Cross? As folhas já
começaram a mudar de cor?
Seu,
Christopher Phelan
Quando Beatrix terminou de ler,
se deu conta de uma sensação peculiar, uma compaixão surpreendente comprimindo
seu coração.”
Algo
também mudara: a percepção que tinha do arrogante capitão a quem passara
evitar, depois do comentário que este fez a um amigo sobre ela: “Aquela garota
Hathaway é uma criatura estranha.” Quando o amigo protestou, dizendo
considera-la encantadora e que tinha conhecimento suficiente para conversar
sobre cavalos melhor que qualquer outra mulher, Phelon teria respondido: “Com
certeza. Ela é mais adequada aos estábulos do que aos salões.”
Não
era o mesmo homem.
Depois
desta carta, ela não consegue mais deixar de pensar e se compadecer do pode
cachorro, dos homens que estão em conflito corpo a corpo e, inegavelmente do
Capitão Phelan... principalmente do Capitão Phelan.
Quando
a superficial Prudence se nega terminantemente a responder a carta, Beatrix não
consegue aceitar. Ele precisa de resposta, precisa de algo que lhe dê consolo.
Assim, ambas concordam que Beatrix escreverá a carta, usando o nome de
Prudence.
Mas o
que seria apenas uma resposta, transforma-se em uma troca correspondência
frequente entre ambos durante os vários meses que se seguiram.
Bea o
ensinou a lidar com o cachorro, o ajudou a suportar os horrores da guerra que
tão profundamente transformam os homens que se enfrentam dia após dia.
E o
inevitável acontece: durante seus relatos, ambos se apaixonam.
“Acha mesmo que tem um lugar no
inferno?... Não acredito em inferno, ao menos não na vida após a morte. Acho
que o inferno é criado pelo homem, aqui mesmo na Terra.
Você
disse que o cavalheiro que conheci não é mais o mesmo. Como eu gostaria de lhe
oferecer mais conforto do que apenas lhe dizer que, não importa quão mudado
esteja, você será bem-vindo ao retornar. Faça o que for preciso. Se isto lhe
ajudar a enfrentar o que tem pela frente, coloque suas emoções de lado por
enquanto e tranque a porta. Talvez, um dia, possamos abrir juntos essa porta
para as suas emoções.”
Mas
ela não era a pessoa para quem ele acreditava estar enviando suas notícias e
emoções, aquilo era uma farsa, da qual ela não sabia como escapar, mas
precisava.
E
quando, por fim, a guerra acaba, o Capitão Christopher pode retornar à
Inglaterra. Finalmente poderia encontrar a pessoa que fez com que ele
resistisse, que lhe deu razões para sobreviver. Enfim, poderia encontrar
Prudence e entender sua última carta, na qual ela dizia que não lhe escreveria
mais e que não era quem ele pensava.
É
desse tipo de história que gosto, com muitas peças para serem encaixadas, em
que os personagens evoluem diante dos nossos olhos. Eles vão amadurecendo e
ganhando uma força que não estava ali, nos seduzindo a cada parágrafo.
Apesar
da arrogância inicial, Christopher vai mostrar que é capaz de amar
intensamente, de grandes atitudes e renúncias. Mas ainda existirão os fantasmas
de guerra que os desafiarão e viver plenamente seu amor, que poderão separá-los
definitivamente.
Lisa
Kleypas fecha com caneta de ouro esta série que me faz ser uma repetitiva sem-vergonha:
é maravilhosa, sedutora, intensa, divertida, emocionante, excitante,
arrebatadora.
Mesmo
encerrando Os Hathaways ela não nos priva das gracinhas de Cam, Kev e Leo,
graças aos deuses da literatura. Nos brinda com um romance puro e conturbado ao
mesmo tempo, graças à espontaneidade de Beatrix e à experiência do Capitão
Phelan.
Ler
Paixão ao Entardecer é pagar mico, se estivermos lendo em público, pois nos faz
rir “sozinhos”, nos excita, enfim, nos causa as várias emoções que os
personagens grandiosos, de uma história incrível de uma autora DIVA, são
capazes de nos provocar.
Por
isso, mais uma vez, quero agradecer à autora Lisa Kleypas e à editora Arqueiro
por tornarem possível a leitura de um livro, de uma série tão bem escrita e
editada. E, repito, todos os livros da série, são magníficos, inesquecíveis! Também é a série cujas capas são tão deslumbrantes quanto suas histórias, simplesmente lindas.
Fico
por aqui, desejando a todos uma sexta maravilhosa e que a Arqueiro continue nos
trazendo essas autoras maravilhosas para o nosso deleite!
Fiquem bem e Carpe Diem!
a arqueiro sempre arrasa, seus romances históricos são tops demais! quero ver se compro mais alguns em breve
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Tem razão, Thaila!
ExcluirA Arqueiro arrasa na escolha das autoras, livros e capas!
Obrigada pela presença!
Beijo
Ahhh Tânia .... é a minha próxima leitura .. estou protelando a despedida amo demais essa família e estou aqui chorando com sua resenha e pensando em todas as histórias da Lisa que lemos até agora.... Muito amorrrr !!!!!! Obrigada .. Bjks
ResponderExcluirEu é que te agradeço, Nandinha, por nos prestigiar com sua presença!
ExcluirEsta é uma série inesquecível mesmo, para termos sempre a mão, pois personagens como estes não dá para encontrar sempre por aí!
Lisa é DIVA mesmo!
Adorei te ver por aqui!
Obrigada, querida!