Diga, ela poderia ser moça eu?
Feliz
da alma, que partiu em um dia
Entre
o mar e o céu
Ondeando a brisa, ilhas e mares
Montanhas,
da chuva e do sol
Tudo o
que era bom, tudo o que era justo
Tudo o
que foi meu se foi”
Skye Boat Song - Karilene
Olá, Envenenados!
Como
falar de um livro dois sem uma tempestade de dicas sobre o primeiro???
Este
sim, seria um excelente tópico para um Papo Envenenado.
Pois
bem, encontro-me hoje, às vésperas de retornar à labuta, com este dilema.
A
vítima desta semana é o meu mais recente favorito, de todos os tempos,
Outlander – A Libélula no Âmbar, o segundo livro da série de Diana Gabaldon,
lançado recentemente pela Saída de Emergência.
Nos vemos
de volta com a impressionante história de Claire Randall (Fraser), viajando no
tempo e na história.
Começamos
o segundo livro também no século XX, o que vai surpreender os leitores que
acompanham a história pela primeira vez, como aconteceu comigo.
No livro
anterior, quando faz uma estranha viagem no tempo Claire se junta a Jamie, numa Escócia “selvagem” e sob o domínio inglês,
lutando para sobreviver aos terrores impostos por Jack Randall, antepassado de
seu marido Frank (no século XX).
A
Libélula no Âmbar começa com Claire, 20 anos depois, já de volta ao século XX,
mas não se sabe como nem porquê. Este fato dá uma certa angústia, pois temos a
impressão de que não teremos nosso escocês apaixonante novamente.
Agora ela
trava uma nova batalha, desta vez para tentar revelar um segredo que guardou
durante esses 20 anos a sua amada filha Brianna.
“Claire Randall guardou um segredo
por vinte anos. Ao voltar para as majestosas Terras Altas da Escócia, envoltas
em brumas e mistério, está disposta a revelar à sua filha Brianna a
surpreendente história do seu nascimento. É chegada a hora de contar a verdade
sobre um antigo círculo de pedras, sobre um amor que transcende as fronteiras
do tempo... e sobre o guerreiro escocês que a levou da segurança do século XX
para os perigos do século XVIII.
O legado de sangue e desejo que envolve Brianna finalmente vem à
tona quando Claire relembra a sua jornada em uma corte parisiense cheia de
intrigas e conflitos, correndo contra o tempo para evitar o destino trágico da
revolta dos escoceses. Com tudo o que conhece sobre o futuro, será
que ela conseguirá salvar a vida de James Fraser e da criança que carrega
no ventre?”
Retornando
à Escócia com sua filha, ela procura Roger Wekefield, filho (sobrinho-neto...)
do reverendo Reginald Wekefield para ajudá-la na busca sobre o destino de um
grupo de guerreiros que lutaram na Revolução Jabobita de 1745.
“A
porta da casa costumava emperrar com o tempo úmido, o que significava que
ficava emperrada durante a maior parte do ano. Roger libertou‑a
com um rangido lancinante e deparou‑se com uma mulher à soleira.
— Pois não, o que deseja?
Era de altura mediana e muito bonita, dando a impressão de
uma boa constituição física sob o linho branco, tudo encimado por cabelos castanhos
cacheados abundantes, presos numa espécie de coque rebelde. E no meio de tudo,
o mais extraordinário par de olhos claros, da cor do xerez envelhecido.
Os olhos ergueram‑se rapidamente dos tênis tamanho quarenta e dois para o
rosto dele, uns trinta centímetros acima do seu. O sorriso enviesado ampliou‑se.
— Detesto começar logo com um clichê — disse ela —, mas,
Santo Deus, como você cresceu, Roger!
Roger sentiu‑se enrubescer. A mulher riu e estendeu a mão.
— Você é o Roger, não é? Meu nome é Claire Randall, uma velha amiga do
reverendo. Mas não vejo você desde que tinha cinco anos de idade.
— Hã... a senhora disse que era uma
amiga do meu pai? Então já sabe...”
Diana
Gabaldon, magistralmente, une ficção com realidade, pois a Revolução Jacobita
de fato aconteceu. Os dados históricos que ela usa para contar uma história de
amor tão inspiradora são tão envolventes, que fazem qualquer apaixonado por
História, enredar-se pelas 935 páginas desse segundo volume. Mas também é um
convite irrecusável a todo leitor adepto de ficção, romance e duelos de kilts e
espadas a conhecer uma parte muito importante da história escocesa.
No ano
passado houve um plebiscito que decidiria se a Escócia continuaria ou não no
Reino Unido. Para alguns, infelizmente o “Não” venceu.
Para nós
que acompanhamos a história de Outlander, tanto nos livros como na série da
Starz, que ainda não chegou aqui, é fascinante observar a ligação que é feita
entre a realidade e a ficção.
E,
para os fãs que estão acompanhando a série de TV, fui informada pelo pessoal do
Outlander Brasil, no Facebook, que não há notícias sobre o cancelamento da
série, pelo contrário. Então, alegrem-se, pois ela continuará. A segunda
temporada será baseada em A Libélula no Âmbar.
Acho meio
difícil encerrarem esta série, principalmente depois que ela venceu Game of
Thrones e The Walking Dead (adoro as três), na categoria Favorite Cable
Sci-Fi/Fantasy na edição de 2015 do People’s Choice Awards. Os protagonistas da série Sam
Heughan e Caitriona Balfe compareceram à cerimônia de premiação e receberam o
troféu.
Enfim,
voltando ao livro, Claire está em busca de informações sobre a Revolução de
1745, onde muitos clãs escoceses encontraram seu fim, bem como o sonho (dos
senhores feudais) de ver o retorno dos Stuarts ao trono ir por água abaixo e
uma maneira de contar toda a verdade para a filha.
Mas,
felizmente, para as fãs do absinto ruivo do dia, voltamos no tempo através das
memórias de Claire, para encontrá-la na França ao lado de Jamie com a missão de
evitar que a Revolução aconteça, ou pelo menos amenizar suas consequências.
Jamie,
mais uma vez mostra porque é um espetáculo de personagem.
A
convite de seu tio comerciante, ele assume seus negócios com a venda de bebidas e, através dos contatos que ele lhe apresenta, começa a por em prática algumas
estratégias para minar os planos de Charles Stuart para reaver o trono da
Escócia e da Inglaterra.
Claro
que com o conhecimento prévio dos fatos que Claire tem, eles terão muito o que
fazer durante estas numerosas páginas.
Diana
continua extremamente detalhista, ao passo de nos proporcionar a impressão de
presenciar, de fato, muitas das cenas da história.
Mas
é a construção de Jamie e de sua relação com Claire e o futuro que mais
impressiona.
Para
um homem que ela conheceu com um grande ferimento, consequente de uma batalha,
típico escocês bruto, que foi capaz de deixar seu traseiro doído depois das
cintadas – como forma de castigo – que lhe deu, Jamie é um cavalheiro
apaixonado e apaixonante. Fiel, sincero e quente, muito quente.
Por
se passar em Paris, boa parte da história garante muitas risadas por conta das
descobertas que ambos vão fazendo. Um exemplo disso é quando Claire volta de
uma visita à Louise de Rohan, mulher casada, mas amante do príncipe Charles
Stuart.
Ao
retornar da visita ela encontra Jamie relaxando em seu quarto, mas quando ele
se aproxima para abraça-la afasta-se espirrando e questionando o cheiro que
emana da esposa.
“– Jasmim, rosas, jacintos e lírio-do-vale...
ambrosia-americana também, ao que parece – acrescentei, enquanto ele bufava e
resfolegava nas profundezas avantajadas do lenço. – Você está bem? – Olhei ao
redor em busca de algum cesto de lixo e me decidi a jogar o sachê numa caixa de
papéis de carta sobre a minha escrivaninha do outro lado do aposento.”
Ainda
assim, nosso herói continua com a crise de espirros, o que faz Claire
decidir-se por retirar o óleo que cobria seu corpo, caso contrário ele explodiria
de tanto espirrar, já que era óleo de jacinto.
“Ergui os braços para trás, a fim de juntar os cabelos e
fazer um coque. De repente, Jamie inclinou-se para a frente e agarrou meu
pulso, esticando meu braço para cima.
– O que está fazendo? – perguntei, levando um susto.
– O que você andou fazendo, Sassenach? – perguntou ele.
Olhava fixamente para minha axila.
– Depilei – disse com orgulho – Ou melhor, tirei com
cera. Louise estava com sua servente aux petits soins, você sabe, sua ajudante
de embelezamento. Ela estava lá hoje de manhã e me depilou também.
– Com cera? – Jamie olhou espantado para a vela no
castiçal, junto ao jarro d´água, depois de novo para mim. – Você colocou cera
nas axilas?
– Não esse tipo de cera – assegurei-lhe. – Cera de abelhas
perfumada. A mulher aqueceu a cera, depois espalhou a cera morna na pele. Quando
esfria é só puxar – encolhi-me involuntariamente diante da lembrança – e, isso
não é nenhum bicho de sete cabeças.
– Não conheço nenhum bicho de sete cabeças. – disse Jamie
com ar severo. – Por que diabos haveria você de fazer isso? – Olhou atentamente
o local da operação, ainda segurando meu braço levantado no ar. – Isso não...
doeu? Credo – Deixou meu braço cair e recuou rápido. – Não doeu? – perguntou ele,
o lenço no nariz de novo.
– Bem, um pouco. – admiti – Mas valeu a pena, não
acha?
...
Virei-me e levantei as saias até os joelhos, apontando
o dedão do pé para a frente a fim de exibir as curvas delicadas da minha perna.
– Mas ficaram tão mais bonitas – ressaltei. – Lisas e macias;
não com as de um macaco peludo.
Ele abaixou os olhos para os próprios joelhos peludos,
ofendido.
– E eu sou um macaco?
– Você não. Eu! – exclamei, ficando exasperada.
– Minhas pernas são muito mais cabeludas do que as suas
jamais serão.
...
– Poderia ter sido pior, sabe – disse, passando a esponja na
parte interna da minha coxa. – Louise mandou remover todos os pelos do corpo
dela.
...
– O quê? Ela removeu os pelos da perereca? – disse ele,
horrorizado a ponto de adotar uma vulgaridade que não lhe era própria.
– Aham – respondi, satisfeita por tal visão afastar suas
atenções de minha própria condição inquietantemente pelada. – Cada pelo. Madame
Laserre arrancou até mesmo os extraviados.
– Nosso Senhor Jesus
Cristo!
...”
Se ainda hoje a reação dos
homens a alguns costumes femininos é hilária, fico imaginando como seria para
um homem das Terras Altas, se pudesse fazer uma viajem no tempo até agora. Tive
necessidade de reler este trecho, que não termina por aqui, para pegar o ritmo
novamente, pois desatei a rir.
E por aí veremos muitos
outros momentos, tanto hilários quanto quentes também. Nunca pensei que leria em um
livro de romance de época sobre anel peniano (curiosa), e aqui temos este
objeto interessante, em pleno século XVIII. Oh, povinho “safadinho”!
Mas também há muita tensão
nesta história: nossos heróis não estão livres dos problemas – novos e antigos.
Jack Randall não deixará de assombrá-los.
Gente, é sério: adoraria
poder conversar com a autora, perguntar-lhe tantas coisas, de onde tira tanta
história, tanto detalhe, como consegue dar vida a uma trama tão elaborada e
incrível.
Se tenho algo a dizer que
seria contra... deixa ver.... ah, sim! O peso. Jesus-Maria-José! Não há uma
posição muito confortável, que dure muito tempo, para ler A Libélula no Âmbar.
Pela qualidade, excelente, do papel e por conta da quantidade de páginas, ele é,
de fato, um peso pesado. Se eu ficasse deitada e o lesse, segurando-o acima da
cabeça, por exemplo, corria sério risco de traumatismo craniano. Rs
Brincadeira!
O livro é maravilhoso e,
claro, não vejo a hora de ver o próximo nas livrarias, não importa seu peso.
Até lá, fica a saudade
desses personagens incríveis, desses locais maravilhosos. E fico eu, por aqui, desejando mais
um mês de férias e a todos vocês uma sexta maravilhosa.
Fiquem bem e Carpe Diem!
Nenhum comentário
Destile seu veneno, comente!