“Em definição simples, a paródia, enquanto termo
literário, refere-se ao processo de imitação textual com intenção de produzir
um efeito cômico. A forma como se processa essa imitação, a motivação para o ato
imitativo e as consequências esperadas para esse ato determinam a natureza
literária da paródia. [...] Não sendo um recurso exclusivo de uma época, está
suficientemente documentada no espaço que se convencionou chamar literatura
pós-moderna para nos permitir distinguir a paródia também como paradigma desta época.
A condição de auto-reflexividade é apenas uma forma de realização da paródia e
não a sua definição final, como propõe, por exemplo, Margaret Rose em Parody//Metafiction (Croom, Helm., Londres, 1979).
1. A paródia é a deformação de um texto preexistente.
2. A sátira é a censura de um texto preexistente.”
Olá,
Envenenados!
Tudo bem com vocês?
Quanto tempo!
Estava morrendo de saudades. Peço desculpas pelo tempo de
ausência, mas quem é professor, ou conhece algum de perto, sabe bem como nosso
trabalho nos consome, até para cuidar da saúde abrimos mão.
Não é brinquedo, não!
Por falar em brinquedo...
Dia desses, estava perambulando pela Saens Pena, centro comercial
da Tijuca (bairro aqui no Rio de Janeiro), e dei a sorte de me deparar com a
feirinha de livros que nos prestigia de tempos em tempos.
Como toda apaixonada por livros, tive que vagar pelos quiosques,
em busca de algo que despertasse meu interesse.
Enfim, estava quase indo embora quando dei uma última paquerada no
último quiosque, quando um livro me chamou a atenção.
Primeiramente, devo confessar que nunca li, nem tenho pretensão de
ler 50 Tons de Cinza, mas já ouvi tanto as amigas falando dele, que posso
garantir que conheço a história. Várias publicações posteriores se basearam na
trilogia erótica Cinquenta Tons de Cinza (Intrínseca), da britânica E. L.
James. Não consigo vislumbrar conteúdo suficiente para preencher tantas
páginas. Nenhum deles também me interessou e, antes que alguma fã fervorosa
venha me criticar, quero deixar bem claro que não tenho nada contra quem leu e
amou a estranha história de Anastasia e Christian Grey. Mas também não
aceito que sejam contra o fato de eu não gostar dela – já disse, só pelo que
sei de quem leu já é o bastante.
O livro que me chamou a atenção, tanto pela capa quanto pelo
título foi Cinquenta Tons do sr. Darcy
– Uma Paródia, publicado pela Bertrand Brasil, escrito por alguém sob o codinome
de Emma Thomas aqui no Brasil.
O livro faz uma brincadeira com os personagens de Orgulho e
Preconceito da nossa maravilhosa Jane Austen – motivo pelo qual o comprei – e
de 50 Tons.
Comecei a lê-lo já na volta para casa.
Já na orelha me rendeu boas gargalhadas por conta do nome do Sr.
Bingley, que na paródia passa a ser Bingulin. A descrição da autora também é
hilária: “Emma Thomas é um codinome. Na
verdade, um inglês mundialmente famoso escreveu este livro. Talvez tenha sido
David Beckham, vai ver foi alguém do Palácio de Buckingham ou um dos Rolling
Stones (a julgar pelo nível de loucura, deve ser a última opção). Mas pode ter
sido qualquer um. Não importa: alguém fugiu do manicômio e teve a ideia de unir Orgulho e Preconceito e
Cinquenta Tons de Cinza. O resultado é um Cinquenta Tons do Sr. Darcy, uma das
maiores loucuras postas em papel”.
Por me fazer sorrir em um período de muito trabalho e um
resfriadão que me deixou como as submissas desses livros, toda doída, Cinquenta
Tons do Sr. Darcy é o absinto de hoje. Sim, o livro, não apenas os personagens.
A história é ambientada na Inglaterra do início do século XIX, mas
contém muitas expressões da atualidade para se referir ao livro mais recente.
Esse livro poderia ter sido escrito até por mim mesma, se tivesse
lido 50 Tons, devido às passagens em que o(a) autor(a) exagera profundamente
situações como as que se referem ao tesão eterno do personagem masculino, ou
até mesmo quando descreve o olhar do protagonista.
Em certas ocasiões fica clara a ironia que faz aos romances da
atualidade. Em outros, no entanto, parece que os próprios personagens, Sr.
Darcy e Elizabeth Bennet criticam o(a) autor(a), bem como os protagonistas do outro
livro. Até a "Deusa interior" da mala protagonista do presente século cede lugar a uma variedade de vozes interiores da protagonista vitoriana, entre elas uma sádica interior.
Durante um dos arranca-rabos, Elizabeth dá uma sacaneada em Gray: “Pois
saiba que o senhor é um personagem mal desenvolvido e unidimensional. Cinquenta
tons? Está mais para dois: desesperado por sexo e mal-humorado”,
criticando escancaradamente a escrita de E.L. James.
Até mesmo os fetiches, o contrato, praticamente tudo é
satirizado.
As irmãs do Sr. Bingulin, por exemplo, são chamadas de Vagalucy
e Curraline, a enorme propriedade de Darcy é Pembaley, o primo do sr. Bennet é
ninguém menos que Phil Collins, o balão do mocinho também tem nome de Charlie
Tango, tal qual o helicóptero de Grey e por aí vai.
O livro garante boas risadas, pessoal, até mesmo quando a
história vai ficando enrolada e repetitiva, os próprios personagens chamam a atenção
para isso.
“Elizabeth poderia
ter se abraçado de tanta alegria se o sr. Darcy não houvesse voltado a amarrar
suas mãos. Então, os seios de Lady Catherine de Bruços não tão magníficos!
– Pembaley! – gritou o
sr. Dacy, de repente, e apontou para leste. – Veja, Elizabeth, está vendo?
Àquela distância,
tudo o Elizabeth podia ver era uma casa grande cercada por jardins bem-cuidados
próxima a algumas montanhas.
– É impressionante! –
arfou ela. A casa era pelo menos três vezes maior do que Netherfield e
ultrapassava essa propriedade também em termos de elegância. – Mas como
chagamos aqui tão rápido? Deixamos Hertfordshire há mais ou menos uma hora.
– Era imperativo que
chegássemos rápido – respondeu o sr. Darcy. – Os leitores já estão começando a
se impacientar. Agora que estamos em Pembaley, podemos começar com as partes
realmente cheias de sacanagem.”
Eu, pelo menos, tive a impressão, várias vezes, de estar
assistindo a uma peça teatral ou a um programa de tv nos quais os atores
interagem com o público e os cacos imperam. Há inclusive momentos em que o(a)
autor(a) cita determinadas construções, mas não tem conhecimento suficiente
para descrevê-las ou fazer comparações no livro, como o fazem tão lindamente
autoras do porte de Austen.
Para encerrar, outra passagem memorável:
“– Taylor está me
espionando? Por que o mandou fazer uma coisa dessas?
O sr. Darcy acariciou
o rosto de Elizabeth com ternura.
– Para mantê-la a
salvo – murmurou ele. – Você pode tropeçar em uma fita solta. Ou ser golpeada
por uma pela de travesseiro. Eu não toleraria que isso acontecesse com você,
Lizzy. Você. É. Tão. Preciosa. Para. Mim.
– Estamos. Prontos. Para.
Prosseguir? – perguntou o dr. Inácio, que claramente tinha pouco tempo para
tais manifestações de afeição.
O sr. Darcy deixou
Elizabeth e se afastou.
– Por favor, cuide
bem dela, doutor – pediu ele, Seus olhos queimavam como brasas de carvão. – Ela
pertence a mim.”
Apenas umas das referências aos olhos intensos do sr.
Darcy. Mas o melhor vem a seguir:
“– Pode ficar seguro
de que darei meu máximo. A propósito, sr. Darcy, quando eu terminar, não deseja
que eu lhe dê algo para essa infecção nos olhos?
– Não, obrigado,
doutor. Gosto dos meus olhos ardendo assim. Eles me deixam sexy.”
Tenho certeza de que Cinquenta Tons do sr. Darcy agradará
aos fãs dos dois livros, sobretudo os que curtem uma brincadeira, os que adoram
rir e os que precisam se distrair, fugir um pouco das tensões, da correria do
dia a dia.
Eu fico por aqui, desejando a todos uma excelente Sexta e
um final de semana maravilhoso.
Fiquem bem e Carpe Diem.
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