Papo Envenenado: Orgulho e Preconceito... ardentemente!

 “Em vão tenho lutado.
É inútil.
Meus sentimentos não podem ser reprimidos.
Preciso que me permita dizer quão ardentemente eu a admiro e amo”.
Mr. Darcy

Olá, Envenenados!

Tudo bem com vocês?
Hoje resolvi aparecer por aqui, desta vez para um Papo Envenenado.
Sério, o que vem a ser Orgulho e Preconceito?
Duas palavras que infelizmente ainda habitam nosso dia a dia: cada vez mais poderosas, cada vez mais nocivas.
Mas hoje eu gostaria de falar sobre o Orgulho e Preconceito título de uma obra que atravessou gerações, 20 décadas, e ainda emociona por sua história de amor.
Há alguns dias resolvi dar uma chance a um filme que nunca tive desejo de assistir, por pura implicância com a atriz que interpreta a protagonista. Não sei se isso é comum, mas, às vezes tomo bronca de alguns atores – seja por alguma declaração ou atitude infeliz, como é o caso do Robin Williams, do Mel Gibson ou Tom Cruise... vá lá, não deixo de admirar o talento dos cabras, mas a antipatia bate e não consigo assistir mais nada deles, sem ficar pensando nas coisas que vou lendo por aí.
Às vezes, é pura implicância gratuita mesmo. E este é o caso da talentosa Keira Knightley. A partir do segundo Piratas do Caribe, passei a não ter muita vontade de assistir seus filmes. E isso incluía Orgulho e Preconceito, de 2005, é claro.
Nada demais, apenas implicância, talvez porque sua personagem em O Baú da Morte tenha atazanado o meu querido e danadinho Jack Sparrow até o final.
Enfim, sejam lá quais forem os motivos, eu simplesmente pulava os filmes em que ela aparecia.
Até que comecei a me embrenhar pelos romances de época e me encantar com seus protagonistas.
Como disse na última Sexta Envenenada, eu não estava inclinada a ter Jane Austen na minha lista de livros a serem lidos.
Desde que comecei a colaborar com As Envenenadas pela Maçã tenho me retratado frequentemente, quanto a algumas restrições que sempre fiz no que diz respeito às minhas escolhas literárias. E, cá estou, novamente, fazendo o meu mea culpa.
O que mais lamento nessa situação é o tempo que perdi, deixando de lado títulos e autores que hoje admiro demais.
Assim, como prometido, estou aqui para compartilhar minhas impressões sobre Orgulho e Preconceito e seus personagens. Sobre Jane Austen, não tenho a pretensão de analisá-la, mas prometo que antes de falar sobre essa incrível autora, lerei os demais romances.

Conheço muita gente que se contenta em apenas assistir os filmes baseados em livros, outras preferem apenas ler o livro e resistir aos filmes. Acredito que existam outros como eu, que ao assistirem uma produção cinematográfica, tenham sua curiosidade despertada para muito mais do que as telas apresentam. E foi o que aconteceu quando, finalmente, resolvi dar uma chance ao filme dirigido por Joe Wright, num fim de semana em que estava sozinha e sem muita inspiração para ler... e deu-se o advento!
O início da minha obsessão por tudo o que diz respeito a Austen, sobretudo se tiver o sobrenome Darcy.
Certamente a história contada num filme é extremamente adaptada, “podada”, para que caiba no orçamento, e o texto de Jane Austen, claro, tem muito mais a dizer. Porém o trabalho realizado nesse filme, pelo menos para mim, conseguiu captar a essência de tudo o que a autora descreve com tamanha naturalidade.

Não estou falando apenas do que vi, mas do que li, pois obviamente sai à caça do livro, que acabei ganhando de presente.
Os cenários, a iluminação, a música e as cores, falam por si, como se também estivessem narrando a história. Mas a interpretação dos atores é soberba.
Caí de amores por Matthew Macfadyen, por Keira, por Donald e toda a sua força em cena, assim como por todo o elenco.
A história de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy é intrigante por várias razões. Mas para mim, o fato de ter sido escrita há 200 anos (completos no início de 2013), por uma jovem que não chegou a se casar e que viveu um período de vários conflitos e mudanças é o mais interessante.
Austen fala sobre as moças que eram apresentadas à sociedade para as temporadas de casamento, sendo que ela mesma não se casou nas mesmas circunstâncias. Viveu um período em que a mulher não tinha direito algum, nem mesmo o de herdar as propriedades da família, e que era ou deveria ser obediente, primeiro aos pais e depois ao marido. Mas, ainda assim, conseguiu construir uma personagem independente, orgulhosa e forte.
Lizzy é contestadora, irônica e até certo ponto arrogante, mas prefere uma vida de solteirona a um casamento sem amor. E neste ponto, podemos ver um traço marcante da própria autora, que aos 27 anos recebeu uma proposta de casamento que, inicialmente, aceitou, mas voltou atrás no dia seguinte, justamente por essa crença.
Li que Austen era criticada por falar de amor e casamento sem nunca ter vivido nenhum dos dois e que era fria ao falar de amor e que seus personagens masculinos soavam falso.
Em Orgulho e Preconceito realmente não debruçamos sobre uma história de amor intensa e mergulhada em clichês que inundam a maioria dos romances. Vamos observando a vida numa época em que os jovens só se tocavam durante uma dança, que aproveitavam este momento para se conhecerem, pois não podiam conversar sozinhos.
É tocante a cena em que Darcy pega a mão de Lizzy para ajudá-la a subir na carruagem: ela fica atordoada e temos um close da mão de Macfadyen. Dá para perceber, desde então, a necessidade que ele tinha de tocá-la, e com o grande charme teatral, permitido apenas pelo DNA dos atores britânicos, sua mão “interpreta” o choque ou formigamento causado pelo toque. Isso não é para qualquer um, no meu ponto de vista.
Quando lemos Orgulho e Preconceito, vamos acompanhando as emoções que um desperta no outro, como Darcy é contido e despreza tudo o que lhe é inferior.
Mas o amigo, Mr. Darcy, atraiu desde logo a atenção da sala, pela sua estatura, elegância, traços regulares e atitude nobre, e também pela notícia que circulou, cinco minutos depois da sua entrada, de que possuía um rendimento de dez mil libras por ano. Os cavalheiros declararam que ele era uma bela figura de homem, as senhoras foram de opinião que era muito mais elegante do que Mr. Bingley. Todos o olharam com grande admiração durante metade do baile, até que finalmente a sua atitude provocou um certo desapontamento que alterou a sua maré de popularidade pois descobriram que era orgulhoso, permanecia afastado do seu grupo e parecia impossível de contentar. E nem mesmo toda a sua grande propriedade, no Derbyshire, pôde salvá-lo da opinião que começava a se formar a seu respeito, de que ele tinha modos antipáticos e desagradáveis e de que era indigno de ser comparado ao amigo. E Mr. Bingley em pouco tempo travou relações com as principais pessoas da sala. Era animado e franco, dançava todas as vezes e mostrou-se aborrecido por ter o baile terminado tão cedo. Chegou mesmo a falar em dar outro em Netherfield. Qualidades tão amáveis falam por si mesmas. Que contraste entre ele e o amigo! Mr. Darcy dançou apenas uma vez com Mrs. Hurst e outra com Miss Bingley. Recusou-se a ser apresentado a qualquer outra moça e passou o resto da noite andando pelo salão, conversando ocasionalmente com uma ou outra pessoa do seu próprio grupo. Seu caráter estava fixado. Era o homem mais orgulhoso, mais desagradável do mundo. E todos pediram a Deus que ele nunca mais voltasse.
...
— Venha, Darcy — disse ele —, você precisa dançar. Incomoda-me vê-lo aí sozinho, de um modo tão estúpido. Seria muito melhor que você dançasse.
— Por coisa alguma deste mundo; bem sabe como eu detesto dançar, a não ser conhecendo intimamente o meu par. Numa festa como esta seria insuportável. Suas irmãs estão ocupadas e não existe outra mulher na sala com quem eu dançaria sem sacrifício.
— Jamais eu seria tão exigente — exclamou Bingley; — palavra de honra, eu nunca encontrei tantas moças interessantes na minha vida... E você está vendo que algumas são excepcionalmente belas!
— Você está dançando com a única moça realmente bonita que existe nesta sala — disse Mr. Darcy, olhando para a mais velha das irmãs Bennet.
— Oh, ela é a mais bela moça que já vi na minha vida, mas bem atrás de você está uma das suas irmãs, que é muito bonita e agradável. Deixe-me pedir ao meu par que o apresente a ela?
— Qual? -— perguntou ele, voltando-se e detendo um momento a vista em Elizabeth até que, encontrando-lhe os olhos, desviou os seus e disse, friamente:
— É tolerável, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens. É melhor você voltar ao seu par e se deliciar com os sorrisos dela, pois está perdendo tempo comigo.”
Lizzy ouve tudo e, claramente ofendida, promete odiá-lo para o resto de sua vida. Eu também fiz esse juramento, mas fui arrebatada ao longo da leitura.  Darcy não faz, inicialmente, nada para mudar a opinião da moça e a nossa. Mas, no decorrer do livro, também vamos acompanhando sua evolução e entendemos sua luta interior com a revelação de seus sentimentos.
Sim, me arrependo por não ter me dado a oportunidade de conhecer essa história anteriormente, mas tento me consolar com a ideia de que hoje estou mais amadurecida e preparada para textos desse naipe. Também me consolo com a leitura inebriante desse livro bicentenário, e com as seções de Orgulho e Preconceito que eu e minha filha – também arrebatada – assistimos aqui em casa.
Nunca é tarde para se apaixonar ardentemente, mesmo que tantos anos depois, seja por uma obra, seja por alguém ou até por nós mesmos.
Eu fico por aqui, embevecida por Austen, Lizzy, Darcy e companhia.
Fiquem bem e Carpe Diem!

16 comentários

  1. Bom dia Tania!!!!
    Querida, que texto maravilhoso, amei a forma como você falou do livro e do filme (amooooo os dois, embora no meu caso, tenha lido o livro alguns anos atrás), sempre me emociono ao assisti-lo, os diálogos entre Mr. Darcy e Lizzy são tão fortes e inteligentes, a interpretação de Macfadyen é perfeita (além de ele ser lindo, claro!), sempre fico suspirando no final.
    Também existe a minissérie da BBC, de 1995, com Colin Firth, ainda não tive a oportunidade de assistir, mas creio que deve ser maravilhosa, afinal esse ator é excelente e a BBC não iria fazer algo que fosse menos que perfeito.
    Não vejo a hora de ler tuas resenhas sobre outras obras de Austen, ontem estava me deliciando na Cultura com os livros dela que ainda não tenho e hoje me deparo com essa surpresa aqui no blog, é sempre muito bom ler um texto tão bem escrito a respeito de algo que se gosta tanto.
    Parabéns e beijos querida!!!!

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    1. Ahhhhhhh!
      Nada melhor que uma amiga tão querida, para compartilhar sentimentos, impressões sobre algo em comum!
      Você sempre carinhosa e presente em minha vida! Sensível e perspicaz.
      Eu sou mais lenta, quando o assunto é romantismo. Mas antes tarde, do que nunca, né?
      Jane Austen for ever!
      Obrigada, minha doce Nadja, por sempre estar comigo!
      Beijão!

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  2. Jane Austen viveu no meio rural e naquela época, onde mulheres não praticamente não tinha autorização de pensar, tendo pouco recursos financeiros ela conseguiu dar vida a personagens tão ricos em personalidade realmente a torna extraordinária. Principalmente personagens femininos, todas tem personalidade independente, talvez a Elizabeth seja mais impetuosa de todas, mas as outras por mais frágeis que podem parecer no primeiro momento, porém são fortes e determinadas, é uma característica da Jane, que é imitada até hoje por algumas autoras de romances históricos, diferente de algumas autoras contemporâneas que mutas vezes descrevem mulheres dependente emocionalmente de homens ou sem nenhuma personalidade determinante. Outra engano que muitas pessoas que nunca leram Jane cometem é em relação a personagens masculinos, muitas imaginam eles uns príncipes encantados, simplesmente perfeitos, mas a realidade eles são bem sapos do inicio ao meio da leitura, depois até podem se transformar, exemplo disso é Mr. Darcy, quem não teve vontade de dar uns tapas nele no início do livro. Resumindo personagens de Jane não são perfeitos, ela expõe seus erros, seus defeitos... e também suas qualidades e seus acertos... ou seja, são tão bem elaborados que parecem reais, uns até podem ser... já que muitos livros são etapas da vida dela. E minha amiga Tania você continua com suas resenhas perfeitas, mesmo não tendo pretensão de fazer uma análise do livro, mas você a fez e como sempre objetiva e sensível. Parabéns

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    1. Oi, linda!
      Sabe, acho que gosto mesmo é dos sapos e dos lobos! Talvez por isso tenha me encantado tanto com Darcy, por não ser um príncipe encantado e por Lizzy, por não ser indefesa!
      Agora, não tem jeito... sou Austen até o fim!
      E tenho que agradecer a você a outras amigas queridas, por lançar a semente dos romances de época no meu coração!
      Obrigada, querida mais uma vez, por estar acarinhando meu coração!
      Beijo!

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  3. Nossa... que delícia de Papo Envenenado!!

    Já sou apaixonada por Orgulho e Preconceito faz tempo... tenho o filme e sempre quando posso assisto e assisto e assisto...

    Paixão eterna!!

    Amo seus Papos Envenenados Dona Tania e já estava com saudades!!! <3

    Este está especial e muito lindo!! Adorei!!

    Bjs!

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    1. Ai! Math!!!
      Especial mesmo é o assunto do Papo Envenenado!
      Você já sabia da minha mais nova obsessão!
      Especial é falar sobre o que amamos, para pessoas queridas num espaço ainda mais especial!
      Valeu, querida!
      Beijo

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  4. Desde de que vi o filme pela primeira vez e foi num anúncio de televisão de tv a cabo, que me interessei. Procurei logo assistir e não me arrependo até hoje. Foi amor a primeira vista. Depois disso procurei pelo livro e me deslumbrei mais ainda com a história e sua escrita tão sublime e tão atual. É o meu livro preferido e tenho-o no meu coração. Amei seus comentários e bem vinda ao fã clube de Jane. Beijos.

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  5. Oi, Beth!
    Este é o efeito Austen, né?
    Seu legado, além do grande talento de contar histórias, é a maneira como aproxima as pessoas!
    Obrigada, querida, pela acolhida e pela presença!
    Beijo

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  6. Olá Tânia! Minha Victória ficou apaixonada pelo filme e agora está lendo o livro! Fiquei muito satisfeita ao saber que ela está se interessando por leitura de qualidade, e que esse interesse foi incentivado pela Beatriz! Um grande beijo! ♡♡♡ Cátia.

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    1. É isso aí, maninha!
      A gente vai se apaixonando e contaminando nossas gerações seguintes!
      Estamos todas vidradas e arrebatadas por Jane Austen!
      Parabéns, irmã, e obrigada por compartilhar esta conquista!
      Beijo ♡♡♡

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  7. Amei, muito bom!
    Gatinha estou atualizando o meu canal com vídeos semanais, visite e se gostar se inscreva. Ah, não esqueça de dá uma passadinha lá no blog, beijinho!
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  8. Gostei muito do texto. Assisti esse filme ha uns anos atrás e n me lembrava muito bem do que se tratava porque era criança na época. Esses dias revirando a Netflix encontrei ele e assisti de novo umas 3 vezes, não contente com isso li o livro e mais uns 3 da Jane Austen e cá estava eu pesquisando o porque de Darcy ter aquela reação ao tocar Elizabeth e encontrei esse texto maravilhoso q explicou tudo.Obrigada

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    1. Eu é que agradeço, Berenice, por compartilhar suas impressões conosco.
      Jane é como o Sol, atravessa gerações, eras, sem perder o brilho!
      Que bom tê-la conosco e poder ajudar!
      Volte sempre!

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  9. Oi Tânia. Li sua resenha. Parabéns pela escrita. Tive contato com esse romance há 46 anos atrás. Foi uma professora do colégio q pediu para ler. A classe toda ficou encantada pelo livro. Meninas e meninos!!! Desde aquela data já li e reli muitas vezes. Minha filha tbm. É meus 2 filhos tb assistiram o filme. As vezes estamos sem fazer nada e começa aquela coisa inexplicável de querer ver o filme. Tenho a certeza q isso só acontece pq é um romance inteligente com diálogos inteligentes. Uma crítica muito bem feita a sociedade daquela época. Assistir ou ler Orgulho e Preconceito é sempre um grande programa!!! Abraço.

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    1. Oi, Regina!
      Que felicidade tê-la aqui.
      Coisas especiais têm o dom de ultrapassar barreiras do tempo e não viram moda, viram símbolos, referências. Elas têm o poder de unir pessoas e graças à web essa união, antes improvável, torna-se possível.
      Assim é Jane Austen e sua obra. Perpétua, linda, fascinante, pura, direta. Difícil não se envolver. Fico muito feliz por saber que você criou pessoas tão sensíveis e abertas como seus filhos. Por um mundo com mais Reginas, Janes, Darcys e Elizabeths.
      Obrigada, querida!

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