Sexta Envenenada: Ler, Viver e Amar em Los Angeles



“Todas as melhores histórias do mundo, na realidade,
nada  mais são do que uma única história,
a história da fuga.
É a única coisa que nos interessa a todos
e todo o tempo: Como fugir.”
Arthur Christopher Benson


Olá, Envenenados!

Tudo bem? Tenho certeza de que, pelo menos por ser Sexta, todo mundo concorda que está tudo ótimo!
Como vocês lidam com os problemas do cotidiano?
Longe de querer ser fofoqueira, pois detesto fofoca, só por curiosidade e porque o tema de hoje tem tudo a ver, como e quanto as dificuldades mexem com vocês?
Será possível adiar eternamente situações difíceis, ou simplesmente ignorá-las?
Até que ponto estamos preparados para encarar e resolver nossos próprios problemas?
A Sexta Envenenada de hoje não é sobre nenhum livro de auto-ajuda, nem pretende ser um divã para ninguém, mas é sobre Dora, a protagonista de Ler, Viver e Amar em Los Angeles.
“As mulheres fazem coisas diferentes quando estão deprimidas. Algumas fumam, outras bebem, outras ligam para o terapeuta, algumas comem. Minha mãe costumava ficar furiosa quando ela e meu pai brigavam e, depois, se embriagava durante dias sem fim e desaparecia dentro do quarto. Minha irmã era mais do tipo frieza total; dê-lhes um gelo e, nesse meio tempo, devore um bolo gelado Sara Lee de banana. E o que eu faço - o que sempre fiz - é sumir de tudo e de todos, mergulhando em um porre literário que pode durar vários dias.
Edição de 2008
Eu caio nesse estado por diversas razões. Às vezes é depois de uma briga do tipo "Não aguento mais olhar pra sua cara". Outras vezes, é sintomático do meu estado psicológico, tédio até o último fio de cabelo, minha vida que está bagunçada, e aquele sentimento de medo sempre que me perguntam o que ando fazendo. Como alguém pode colocar todas essas coisas em ordem? Levando tudo em consideração, prefiro ler. É a fuga perfeita.”
Quem pensa assim, levanta a mão aê!
Sério gente, dos prazeres que vamos descobrindo na vida, ao longo do nosso desenvolvimento, ler é de fato o que não causa mal nenhum, a não ser que seja aquela leitura tortura.
Leitura tortura – sf+adj – substantivo seguido de adjetivo – no vocabulário dos amantes da leitura é mais ou menos aquele tipo no qual a gente lê por obrigação, ou porque você vai ser avaliado sobre o livro que está lendo (horror de muitos da minha época), ou porque o livro está super na moda e você quer ter o que comentar sobre ele, ou um amigo o indicou está louco para saber a sua opinião e o livro é uma bomba e, na pior das hipóteses, você é um infeliz de um blogueiro que tem por obrigação ler e resenhar aquela obra e ainda tentar ser imparcial.
Para mim, ler é sempre um exercício e lamento muito não ter mais tempo para esse prazer. Exercitamos nossos conhecimentos, nossa imaginação, nossa capacidade de sonhar e até mesmo nossa paciência.
Kaufman e Mack
Há alguns anos, numa das minhas expedições exploradoras de livrarias, encontrei um livro bem simpático cujo título mais me lembrava uma peça teatral. O livro era Ler, Viver e Amar em Los Angeles de Jennifer Kaufman e Karen Mack, publicado pela Casa da Palavra em 2008.
O que me chamou a atenção foi o fato de as autoras colocarem a ação de Ler à frente de viver e amar. Aqui é dada uma importância tal à leitura, que poderíamos dizer que torna-se vital. E por que não?

“Eu coleciono livros da mesma forma que minhas amigas compram bolsas de grife. Às vezes, só gosto de saber que os tenho e lê-los de fato não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os leio. Mas o mero ato de comprá-los me deixa alegre — o mundo é mais promissor, mais satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais otimista. A totalidade do ato simplesmente me faz feliz.”
Outro fato curioso é o de ter sido escrito a quatro mãos e, definitivamente, não ter desandado a receita, pois o livro é ótimo. Não é sobrenatural, como curtimos muito por aqui, pelo contrário, é bem real sem ser biográfico.
Edição de 2011
Nesta obra conhecemos Dora, não a Aventureira, mas poderíamos chamá-la assim também. Este livro, incrivelmente narrado em primeira pessoa, é surpreendente por inúmeros motivos, contando os que citei anteriormente.
Dora é a nossa cara, e vai além, ela faz piada de si mesma, não é vítima, vai à luta e usa seus livros como refúgio. Mas o mais legal nessa mania é o ritual que ela tem para seus “porres literários” como ela mesma define. Começando por abrir uma garrafa de vinho tinto, desligando o celular e reunindo os livros que pretende ler ou reler. Na melhor parte, depois da leitura é claro, ela enche sua banheira com sais de banho e liga seu rádio Deco antigo que só consegue sintonizar em uma única estação, que fantasticamente passa clássicos de jazz dos anos 1950 e 40.
Vamos combinar, é ou não é uma tentação?
Tão divertido e atraente é o bom-humor como o qual ela se descreve fisicamente.
Mas ela aprendeu a ser assim, desde o acidente que sofreu com sua irmã e sua mãe, as separações de seus pais, as brigas que presenciava, a sua própria separação e, como a cereja em cima do chantili, ela também perde sua carreira.
Mas foi ainda na infância que Dora aprendeu a beber até ficar embriagada, mas não de garrafas de bebidas alcoólicas, mas sim nas páginas de seus livros. Somente assim ela ficaria alheia aos problemas que assolavam o mundo fora das capas dos livros.
Após a segunda separação, Dora vive entre seus porres literários e suas jornadas às livrarias. Durante uma dessas viagens, ela conhece Fred e cai nas graças desse cara que é formado em literatura e a leva a fazer inúmeras descobertas.
O livro é uma simpatia, a protagonista poderia ser qualquer uma das leitoras desse blog ou de tantos outros. A leitura é prazerosa e sem frescuras.
Outro ponto positivo é o fato de haver citações de vários autores durante a história, e além de narrar os fatos de sua vida com humor e verdade, Dora não se põe no lugar de vítima, ninguém é culpado, ela vai destrinchando e, ao mesmo tempo, fazendo uma análise de si mesma e do rumo que vem dando à sua vida.
“Meu primeiro marido, Jack, foi uma história diferente. Ele era o clássico bom partido da escola – bonito, popular, atlético e gostava de festas. Foi onde eu o conheci, a propósito, em uma festa. Pela primeira vez em minha vida, me senti “incluída”. Ele também foi o primeiro homem a me dizer que eu era sexy, linda e desejável – como posso não amá-lo para sempre?
Quem dera que eu tivesse uma razão melhor para achá-lo tão atraente. Mas não consigo. Eu me casei com ele porque ele era um gostosão. Ponto final. Ninguém entendia, mas o negócio é que os homens fazem isso o tempo todo e ninguém dá a mínima. Por que as mulheres têm que inventar todo tipo de explicações ao fazer a mesma coisa? Não tentei impressioná-lo com a relação que eu tenho com os livros porque sei que ele não daria a menor importância. Para ser sincera, na verdade foi uma experiência muito libertadora... E muito romântica.
Como Shakespeare sabiamente observou em A Tempestade, o amor romântico é tão mais complicado do que isso. Embora Jack me deixasse fervendo na cama, ai, ai, isso não compensava o fato de que ele não tinha qualquer tipo de curiosidade intelectual...”
Aff! Alguém conseguiu se colocar no lugar da guria? Pois é!
Mas quando Dora começa a se relacionar com Fred, o gostosão da livraria, e conhece a família do rapaz, ela também inicia outra aventura, mas desta vez sobre pontos de vistas seus a respeito da tudo, e começa a olhar a sua vida com outros olhos.
Sabe aqueles momentos em que parece que mais nada de excitante ou definitivo acontecerá em nossa vida? E, de repente, tudo pode mudar?
Pois é, entrar no mundo de Ler, Viver e Amar em Los Angeles é um convite agradável para uma leitura descomplicada e gostosa.
Leiam, e me digam o que acharam. Se já o leram, me digam também!
Enquanto isso, eu volto para minhas outras leituras, louca para me aventurar mais uma vez no mundo de Dora e vou cuidando desse resfriado enjoado que não me larga de jeito nenhum!
Fiquem bem e Carpe Diem.
 

4 comentários

  1. eu estou lendo esse livro e adorando!

    http://www.lostgirlygirl.com

    bjos

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    1. Que coincidência, hein, Michelle!?
      Espero aproveite bem a leitura e obrigada por estar aqui conosco!
      Bjks
      Tania

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  2. Como eu gostaria de ser igual a Dora, largar tudo e me afundar em milhões de livros para esquecer os problemas... É realmente uma pena que a gente não tenha tempo para esses prazeres da vida ou, no caso, para essa doce terapia intensiva! De qualquer forma, me identifiquei muito com ela, principalmente em relação a comprar/ter livros apenas por tê-los! hahahah

    "Ler, Viver e Amar em Los Angeles" é tudo o que você disse hoje e muito mais! Só pelas citações que você escolheu dá pra ver que ele realmente parece ser muito bem escrito, humorado e fofinho!

    Ah seu eu pudesse... xD Beijos querida!!

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    1. Pode apostar, Penélope!
      Quando quiser te empresto o meu!
      Beijos, minha linda!

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