Sexta Envenenada: Os homens que não amavam as mulheres

Violência contra as mulheres: a situação

O problema:
A violência contra as mulheres assume muitas formas –
 física, sexual, psicológica e econômica.
Essas formas de violência se interrelacionam e
 afetam as mulheres desde antes do nascimento até a velhice.
Alguns tipos de violência, como o tráfico de mulheres,
 cruzam as fronteiras nacionais.
As mulheres que experimentam a violência
 sofrem uma série de problemas de saúde,
e sua capacidade de participar da vida púbica diminui.
 A violência contra as mulheres prejudica as famílias
e comunidades de todas as gerações e reforça outros
tipos de violência predominantes na sociedade.
A violência contra as mulheres também empobrece
 as mulheres, suas famílias, suas comunidades e seus países.
A violência contra as mulheres não está confinada
 a uma cultura, uma região ou um país específicos,
 nem a grupos de mulheres em particular dentro de uma sociedade.
 As raízes da violência contra as mulheres decorrem da
discriminação persistente contra as mulheres.
Cerca de 70% das mulheres sofrem algum
tipo de violência no decorrer de sua vida.
As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco
de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer,
 acidentes de carro, guerra e malária,
 de acordo com dados do Banco Mundial.[...]”

“Na Suécia, 18% das mulheres foram ameaçadas
 por um homem pelo menos uma vez na vida”
Os homens que não amavam as mulheres

Olá Envenenados!

♪♫“Me leva que eu vou, sonho meu...”
aqui no Envenenadas só não entende quem não leu... ♪♫
Até parece que eu fui atrás de algum bloco ou que sequer acompanhei dos desfiles pela TV! Mas aproveitei “bastantão” o meu feriadão lendo, dormindo, trabalhando, e dormindo...
E, finalmente, o ano começa.
Esta Sexta ainda está com um gostinho de feriadão e romance, aliás, qual sexta não o tem?
Mas hoje não vamos falar de romances delicados, recheados por muitas ondas de calor e muito sexo. Hoje vamos abordar um livro que, de tão bem elaborado e escrito, ganhou as telonas não uma, mas duas vezes.
Estou falando de Os Homens que não Amavam as Mulheres, do sueco Stieg Larsson. Este é primeiro livro da trilogia Millenium que foi editada aqui pela Companhia das Letras.
Como protagonista desse fenômeno literário, temos o jornalista Mikael Blomkvist que é condenado a alguns meses de reclusão, depois fazer denúncias contra um financista, mas que acabam não dando em nada, pois ele não teve como comprová-las.
Super-Blomkvist, como ficou sendo conhecido desde que 20 anos antes, logo no início da carreira, quando ele descobriu e denunciou um grupo de assaltantes de bancos cujas ações eram muito violentas.
Mas o assunto que será abordado como tema central da obra será o desaparecimento de Harriet Vanger.
Pouco antes de ser levado a cumprir a sentença de três meses de prisão, Mikael recebe uma proposta do tio da moça, Henrik Vanger para que escreva sua biografia e de sua conturbada família. Mas a verdadeira intenção do industrial é que Mikael investigue o desaparecimento de sua sobrinha favorita.
Acontece que Harriet desapareceu misteriosamente durante um encontro do clã Vanger há mais de quatro décadas.
Mikael balançou a cabeça e falou:
— Continue.
— Vou ser breve então. Eu não tinha filhos, um contraste considerável com os outros irmãos e membros da família, que pareciam obcecados pela necessidade estúpida de perpetuar a linhagem. Gottfried e Isabella vieram morar aqui, mas o casamento começou a se desfazer. Depois de um ano, Gottfried se instalou em sua cabana, onde passava longos períodos sozinho, só retornando à casa de Isabella quando estava muito frio. Acabei me encarregando de Martin e de Harriet. Em mais de um aspecto eles passaram a ser os filhos que nunca tive. Martin era... Para dizer a verdade, houve um momento em sua juventude em que temi que seguisse as pegadas do pai. Era indolente, introvertido e hipocondríaco, mas também podia ser charmoso e entusiasta. Passou por alguns anos difíceis na adolescência, mas se endireitou ao começar a universidade. Ele... bem, apesar de tudo ele é o diretor-executivo do que resta do grupo Vanger, o que deve ser encarado como um saldo razoável.
— E Harriet? — perguntou Mikael.
— Harriet tornou-se a menina dos meus olhos. Tentei dar a ela segurança e, a partir daí, confiança em si mesma. Nós dois nos entendíamos muito bem. Considerava-a como filha e ela passou a ser mais próxima de mim que dos próprios pais. Entenda, Harriet era uma menina muito especial. Introvertida como o irmão, na adolescência teve uma atração romântica pela religião, o que a distinguia de todos os outros membros da família. Mas também tinha talentos evidentes e uma inteligência rara. Um grande senso moral e uma grande honestidade. Quando estava com catorze, quinze anos, eu tinha a certeza de que ela, mais do que o irmão e todos os primos e sobrinhos ao meu redor, seria um dia chamada para dirigir o grupo Vanger ou, pelo menos, para desempenhar algum papel central nele.
— E o que aconteceu?
— Chegamos agora à verdadeira razão pela qual eu gostaria de contratá-lo. Quero que descubra quem, na família, assassinou Harriet Vanger e há quase quarenta anos vem tentando me fazer mergulhar na loucura. 
Loucura porque durante todos aqueles mais de 40 anos ele vinha recebendo uma flor emoldurada a cada aniversário, o que não permitia que jamais esquecesse o desaparecimento da sobrinha e, para piorar a situação, era anônimo. O máximo que o ex-industrial conseguiu foi descobrir a espécie de cada uma das flores e depois disso colocá-las numa parede.
Para surpresa de Mikael, seu interesse pelo caso despertou de maneira extremamente intensa. Assim, ele acaba aceitando o trabalho e se instala numa “casa de convidados” que fica na propriedade Vanger. A partir daí, ele passa a analisar todos os dados que Vanger vinha guardando, materiais com mais de 30 anos de investigações, conversando com os componentes da família, que acreditavam ser apenas um trabalho de entrevistas, de coleta de informações para esboçar a biografia.
A história parece simples, mas gradativamente Larsson nos apresenta um enredo repleto de personagens complexos, histórias suspeitas e conflitos emocionais intensos.
Grande parte da tensão da história fica por conta da personagem que divide com Mikael o palco de Os homens que não amavam as mulheres: Lisbeth Salander.
Na verdade, ainda que Mikael esteja muito presente na história, saibamos muito sobre ele e seus próprios dilemas, ele é descomplicado, perspicaz e franco; é Lisbeth que terá um destaque enorme na história.
Mesmo sendo uma pessoa extremamente distante emocionalmente, com um histórico de internações e interdição, será Lisbeth que ajudará Mikael a montar seu caso e desvendar o mistério.
Tema recorrente em vários meios de comunicação, a violência contra as mulheres é pano de fundo nesta história, que foi lindamente retratada na versão sueca para o cinema, aliás, a trilogia completa já tem sua versão cinematográfica em seu país de origem.
Poucas vezes vi adaptações cinematográficas tão atentas aos seus livros quanto essas versões suecas, e soube que, inclusive, os produtores da versão hollywoodiana tentaram levar a atriz Noomi Rapace que interpreta tão lindamente Lisbeth Salander na telona, para fazer o mesmo papel, mas sem sucesso.
Na primeira adaptação para o cinema, Os homens que não amavam as mulheres conta com Michael Nyqvist, sueco e tão talentoso quanto Noomi, mas a versão americana conta com britânico, e não menos talentoso, Daniel (007) Craig como Mikael Blomkvist e Rooney Mara como Listbeth.
Como não estou aqui para discutir a qualidade das adaptações, deixo a critério de cada um a escolha, mas não posso deixar de dizer que ambos contam a mesma história, claro, de maneiras muito ricas, mas para quem já leu a história, a primeira versão é, de longe, a mais fiel (pronto: falei).
Essa é uma dessas trilogias de arrepiar até mesmo os calvos, é um brinde aos amantes do gênero de suspense, mas não deixa de ter seu lado sensual, claro, já que Mikael adora fazer uns lanchinhos. Mas a trama é envolvente e você não consegue desgrudar os olhos até ver o caso resolvido.
Ontem, em muitos países foi o Dia de São Valentim, uma versão do nosso Dia dos Namorados, e em vários lugares do mundo houve manifestações contra a violência contra as mulheres, que pelo visto e pela amplitude infelizmente está longe de ser erradicada. As estatísticas são assustadoras, e o pior é saber que estão longe de retratarem a realidade.
Stieg Larsson criou uma extraordinária história que retrata a realidade de muitas pessoas mundo afora, um fenômeno de vendas e, infelizmente este foi seu último trabalho, já que veio a falecer pouco depois de entregar a trilogia aos editores em 2004. Mas não há dúvidas que Millenium o eterniza, por seu talento, por sua habilidade em escrever, assim como sua luta em defesa dos direitos humanos. Eu diria até que há muito de Stieg em Mikael, no que diz respeito a sua postura jornalística, política e social.
Vou ficando por aqui, desejando a todos uma boa leitura, que a Sexta seja esplêndida, que o final de semana seja glorioso e que as estatísticas de violência, de maneira geral, reduzam através da conscientização das pessoas, da educação para um mundo mais justo e pacífico e que haja mais tolerância e justiça em relação às minorias.
Fiquem bem e Carpe Diem.


8 comentários

  1. Amei o post,sou louca para ler esse livro,já até peguei na biblioteca mais foi em semana de provas :s

    Beijinhos,sucesso !
    Lia ¨
    www.limaoealecrim.blogspot.com

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    1. Olá, Jamilly!
      Que bom que gostou do post e espero que tire alguns dias para poder curtir as aventuras de Mikael e Lisbeth, você vai gostar, tenho certeza. Depois nos dê sua impressão!
      Beijos
      Tania

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  2. Esse livro é incrível, fantástico mesmo! Eu sinceramente não gostei da adaptação norte-americana para o cinema... inventaram algumas cenas, cortaram muita coisa... o livro, como sempre é rico, e o filme não passou isso.

    abraços,
    Luciana
    Folhas de Sonhos artesanatos

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    1. Oi, Luciana!
      Concordo com você, experimente a versão sueca da história em DVD, e me diga o que achou.
      Eu gosto muito do Daniel Craig, e até gostei da versão americana, mas os suecos ficaram mais à vontade nos papéis.
      Obrigada por vir e comentar!
      Beijos
      Tania

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  3. Oi, Tania
    A trilogia Millenium li bem antes de se cogitar a adaptação para telona, ou seja, logo assim que foi lançada aqui. Concordo com você vi os dois filmes, e a adaptação sueca é de longe a melhor por conta do sentido do próprio livro, mas o Daniel Craig encarou bem o Mikael. Enfim, adorei seu post, muito instrutivo no tocante a violência.Valeu!!! Não deixem de ler está trilogia é sensacional.

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    1. Oi, Verônica!
      Que bom que você curtiu a trilogia, realmente é maravilhosa!
      Sensacional mesmo é ler comentários tão antenados quanto de vocês!Obrigada, linda, por acompanhar esse espaço!
      Beijão
      Tania

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  4. Oi Tania, ótimo post como sempre! Eu ainda não li os livros e nem vi a primeira adaptação para o cinema e por isto não posso opinar muito, mas eu assisti a segunda com o Daniel Craig, e adorei o filme.
    E depois do seu post, já fiquei com vontade de conferir a trilogia. Agora é esperar por uma grana sobrando e comprar logo os três. Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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    1. Oi, Lia!
      Tenho certeza de que você vai virar fã da trama!
      O filme com Daniel é muito, muito bom, de verdade! E se você gostou dele, certamente vai ficar alucinada com o sueco e pirar com os livros.
      Tenho a trilogia, se quiser te empresto!
      Obrigada, minha "lora", por estar sempre presente por aqui!
      Beijão

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