Sexta Envenenada: A Noite mais Sombria


“Ele viu o paraíso.
Ele viu o inferno.
Ele viu liberdade, prisão, tudo e nada.
Ele viu... seu lar.”
A Noite mais Sombria

No início, nada possuía forma, não havia separação entre as coisas e essa imensidão nebulosa era conhecida como Caos e não se sabe quanto tempo durou.
Um poder extremo e misterioso começou a organizar tudo isso, separando os astros, preenchendo os vazios, dando forma, iluminando e nomeando cada recanto. As partes essenciais de nosso mundo foram enfim criadas e aguardavam aqueles que as habitariam.
Coube aos deuses Urano (Céu) e Gaia (Terra), através de sua união, a tarefa de povoar este mundo com os primeiros seis meninos e seis meninas (Titãs e Titânides). Esses, por sua vez, também geraram filhos.
O caçula dos Titãs, Crono causaria alvoroço.
Urano e Gaia ainda tiveram outros filhos que foram obrigados pelo pai a permanecer no Tártaro. Gaia pediu ajuda aos Titãs, mas apenas Crono aceitou ajudá-la cortando os testículos de Urano. Assim, derrotando o rei dos deuses e seu pai, Crono tornou-se o todo-poderoso.
Porém, contrariando a mãe, ele resolveu reinar sozinho e não libertou seus irmãos. Com tamanha fúria, Gaia joguou aquela praga fabulosa: “Você também, meu filho, será deposto por um de seus filhos!”
Para evitar que as palavras de sua mãe fossem realizadas, Crono engolia cada um dos filhos que sua irmã Réia lhe dava, assim que nasciam.
Desesperada por cada um de seus amados filhos condenados pelo próprio pai, Réia resolveu que não permitiria que isso também ocorresse com seu sexto filho (Zeus). Assim, enrolou uma pedra em um manto e o entregou a Crono, como se seu filho fosse.
Assim, logo a profecia de Gaia se realizaria, pois o jovem Zeus tomaria o poder de seu pai para si.
Para conseguir derrotar Crono, Zeus contou com a ajuda de seus irmãos Posêidon e Hades, assim como os Ciclopes e outros gigantes, que por terem sido libertados pelo jovem Zeus das profundezas do Tártaro, entregaram-lhe, em gratidão, o trovão, o raio e relâmpago.
Por seu apoio na tomada do poder, Zeus partilhou com Posêidon e Hades o domínio do mundo, dividindo o universo em três partes: o céu e a terra, que ficariam sob seu comando, os mares e oceanos ficariam a cargo de Posêidon e a área subterrânea, para onde os mortos eram encaminhados, seria governada por Hades.
“Crono não era apenas um deus violento e ávido de poder. Ele presidia uma raça de homens a que os deuses tinham dado uma existência amena e pacífica, semelhante à deles. Como os deuses, os homens não envelheciam e não sabiam o que era cansaço nem dor. Para se alimentar, não precisavam trabalhar, porque a terra, sem ser cultivada, produzia o ano inteiro frutos em abundância. Sem esforço, portanto, os homens colhiam frutas deliciosas nos arbustos, abaixando-se somente para catar os morangos saborosíssimos que a natureza lhes oferecia. Não necessitavam usar roupa, porque só havia uma estação, a primavera.
Sua vida tranquila era marcada por festas em que as relações de amizade e mútuo bem-querer se expandiam. Esses tempos eram chamados de idade de ouro porque tinham a pureza, a riqueza e a eternidade do ouro. Mas essa raça de homens acabou se extinguindo, e outra a sucedeu.
Em seguida, os deuses criaram do barro os seres vivos. Sem perceber, privilegiaram os animais, em detrimento dos homens.
De fato, os primeiros receberam as qualidades físicas que lhes permitiram se adaptar perfeitamente ao meio natural. Alguns, como o urso, foram dotados de grande força; outros, menores, como os passarinhos, ganharam asas para fugir. A divisão parecia equitativa, e as qualidades distribuídas entre as várias espécies se equilibravam. Mas uma das espécies foi esquecida: a humana. Com sua pele apenas, os homens não podiam suportar o frio, e seus braços nus não eram suficientemente robustos para combater os animais selvagens. A raça humana estava ameaçada de extinção...
Prometeu, filho do titã Jápeto, sentiu pena dos fracos mortais. Ele sabia que a inteligência deles possibilitaria que fabricassem armas e construíssem abrigos se eles tivessem meios para isso, mas lhes faltava um elemento essencial: o fogo. Com o fogo, poderiam endurecer a ponta de suas lanças, a fim de torná-las mais resistentes, e se aquecer em seu lar.
Ora, os deuses conservavam com o maior cuidado a preciosa chama só para si. Prometeu teve que penetrar discretamente na forja de Hefesto, o deus do fogo, para roubar a chama, que levou para os homens ocultada no oco de uma raiz.
Zeus não ignorou por muito tempo esse furto. Assim que notou o brilho de uma chama entre os mortais, o poderoso soberano deu vazão à sua cólera. No mesmo instante jurou vingar-se dos homens e do benfeitor deles, Prometeu.
Combatendo uma esperteza com outra, teve a ideia de produzir uma criatura irresistivelmente encantadora que causaria a desgraça dos homens. Assim, usando barro, criou a primeira mulher, que chamou de Pandora. Contou com a ajuda de Hefesto, que a enfeitou com as jóias mais delicadas, e de Atena, que a vestiu com um tecido vaporoso, preso na cintura por um cinto trabalhado artisticamente.
Quando ela ficou pronta, Zeus a mandou à casa de Epimeteu, irmão de Prometeu. Conhecia a ingenuidade e imprudência desse deus. Não podendo resistir aos atrativos de tão bela pessoa, Epimeteu esqueceu que o irmão o prevenira contra os presentes de Zeus. Recebeu Pandora e a instalou em sua casa.
Pandora havia trazido consigo uma caixa que não deveria abrir em hipótese nenhuma. Isso lhe fora expressamente recomendado por Zeus ao lhe dar a caixa. Era mais uma esperteza, porque ele sabia muito bem que a jovem iria querer descobrir o conteúdo dela.
Movida pela curiosidade, Pandora acabou abrindo a caixa... de onde saiu precipitadamente um vento de desgraças. Apavorada, ela viu passar a fisionomia ameaçadora da crueldade e o sorriso malicioso do engano. Ouviu gritos queixosos dos miseráveis e dos sofredores. Outras desgraças começavam a se propagar assim no vasto mundo. Quando Pandora descobriu seu trágico erro, tampou rapidamente a caixa. E então, a Esperança e todas as promessas de felicidade para os homens ficaram para sempre trancadas ali...
Quanto aos homens, eles aprenderam com isso que um bem podia vir acompanhado de uma desgraça.”

Olá, Envenenados!

Estamos de volta com mais uma Sexta Envenenada. Mas esta Sexta está com um gostinho bastante mitológico. Já deu pra perceber, né?
Acho que já disse aqui se sou apaixonada por História, de maneira geral, mas sempre tive um tombo por história antiga, fosse egípcia, grega, africana... não importa. Quando o assunto era mitologia então, eu viajava.
Sempre que posso adquiro livros ou revistas que tratem do assunto, e foi numa dessas buscas que descobri um livro muito simpático, que trata desse tema com uma graça muito distinta.
O trecho anterior, que trata da criação dos primeiros homens, do ponto de vista da mitologia grega, e do mito de Pandora e sua caixa, foi retirado do livro Contos e Lendas da Mitologia Grega, escrito por Claude Pouzadoux, ilustrado por Frederick Mansot e editado pela Cia das Letras.
Esta é apenas uma das obras que aborda a mitologia grega, toda sua riqueza e o legado que herdamos.
Enfim, lendas e mitos sempre povoaram o imaginário das pessoas, e serviram de inspiração para releituras na literatura, no teatro, no cinema, música e por aí afora.
Gena Showalter também se inspirou na mitologia grega para criar algumas de suas obras; estou falando de Senhores do Mundo Subterrâneo – Lords of the Underworld.
Senhores do Mundo Subterrâneo é uma série de livros que conta a história de 12 guerreiros gregos que, diferentemente do mito, violado a caixa e libertado os males ou demônios, como o livro se refere, que estavam presos nela e teriam assassinado Pandora. Males que passaram a assombrar os humanos, como Violência, Doença, Dúvida, Derrota, Mentira, Dor, Morte, entre outros, foram liberados.
Pelo amor que tenho por tudo que diz respeito à história e ao legado grego, hoje trago Maddox, Guardião da Violência, para saborearmos esta Sexta Envenenada.

Maddox é protagonista do primeiro livro da série, A Noite Mais Sombria – The Darkest Night.
Ao ser preterido como guardião da dimOuniak, uma caixa sagrada que continha os espíritos mais destrutivos e infames, em favor de Pandora – guerreira poderosa e forte, mas mulher – viu-se indignado, assim como seus companheiros que haviam lutado pelo rei dos deuses e garantido a segurança por muito tempo, revoltarando-se por não terem sido escolhidos para a tarefa.
Ele e seus amigos não tinham a intenção de libertar o mal da caixa, mas as coisas não aconteceram como esperavam e como castigo, o rei dos deuses os condenou a carregar dentro de si um dos demônios libertados por toda a eternidade.
“Um castigo adequado. Os guerreiros haviam libertado o mal para vingar seu orgulho pungente; agora, eles os conteriam.
Assim, nasciam os Senhores do Mundo Subterrâneo.
Maddox recebera Violência, o demônio que agora era tão parte dele quanto seus pulmões ou seu coração. Agora, o homem não conseguia viver mais sem o demônio, e o demônio não conseguia mais agir sem o homem. Eles estavam entrelaçados, duas metades de um todo.
Desde o começo, a criatura dentro dele o incitara a fazer maldades, coisas detestáveis, e ele era forçado a obedecer. Mesmo quando levado a matar uma mulher... a matar Pandora. Seus dedos se fecharam com tanta força na barra que as juntas quase se deslocaram. Ao longo dos anos, ele aprendera a controlar algumas das compulsões mais cruéis do demônio, mas era uma luta constante, e ele sabia que podia ceder a qualquer momento.
O que ele não daria por apenas um dia de tranquilidade. Sem o irresistível desejo de ferir as pessoas. Sem batalhas internas. Sem preocupações. Sem morte. Só... paz.”
Durante os primeiros dias sombrios após receberem suas maldições, os guerreiros eram mais demônios que homens; implantaram terror, infligindo fome, doença, violência, destruição em todas as direções e fazendo montes com os corpos humanos que eram abatidos.
Naquele período de penúria surgiram os Caçadores, uma espécie de organização de mortais que tinham como objetivo libertar a humanidade desses males. A tática mais eficaz dos Caçadores contra os Senhores era a utilização de Iscas femininas treinadas para envolver e distrair os guerreiros. Foi utilizando uma dessas Iscas que os Caçadores mostraram aos Senhores que havia uma forma de destruí-los.
Nos dias atuais, o grupo do qual Maddox faz parte vive em uma fortaleza escondida em uma floresta em Budapeste. Embora tentem manter-se afastados dos humanos o máximo possível, eles precisam entrar em contado com o resto da humanidade em determinados momentos. Em um desses momentos Maddox encontra-se sozinho na fortaleza com Torin, possuído pelo espírito de Doença, quando descobrem a presença de uma mulher nas imediações da propriedade.
Como seria desastroso para todos se Torin saísse de casa para ir de encontro à intrusa, devido ao seu demônio, ambos concordam que Maddox cumpra a missão. Porém, o grande dilema desse guerreiro não está ligado apenas ao demônio da Violência, mas também à outra maldição que carrega.
Ele está condenado a morrer todas as noites da mesma forma como assassinou Pandora – assim, à meia-noite, por toda a eternidade, Reyes – Guardião da Dor – deve desferir-lhe seis golpes com uma lâmina no abdômen. Depois disso, Lucien – Guardião da Morte – escolta sua alma até o inferno, onde sofre torturas extremas até o amanhecer.
Quando a intrusa começa sua incursão pela floresta dos Senhores, a meia-noite está muito próxima. E o que Maddox menos espera é encontrar um novo tormento para sua vida.
“Ashlyn Darrow sempre fora atormentada por vozes de diversas épocas, sobrepostas, interligadas, vindas de todas as direções, causando-lhe profundo sofrimento. Só havia um lugar onde ela talvez pudesse encontrar cura para seu mal: a misteriosa fortaleza habitada pelos imortais, em Budapeste.”
Na busca desesperada para libertar-se das vozes que atormentavam sua vida, desde sempre, Ashlyn parte para Budapeste. Lá tem esperança de encontrar a paz.
Ao deparar-se com um homem enorme, de cabelos negros e olhos violetas vindo em sua direção a uma grande velocidade, tem sua vida totalmente transformada.
“Profundamente chocada, inacreditavelmente apavorada, ela precisou de um instante para dar-se conta de que algo estava... diferente. O ar, a temperatura, o...
As vozes haviam parado.
Seus olhos se arregalaram de perplexidade.
As vozes haviam parado, como se percebendo a presença do home e sentindo tanto medo quanto ela. O silêncio a envolveu.
Não. Não era um silêncio absoluto que ela experimentava, percebeu um momento depois, e sim uma... quietude. Uma quietude suntuosa, deliciosa. Quanto tempo fazia que ela não sabia o que era aquilo, não ser envolto por conversas? Já sentiu isso alguma vez?”
Alexis Papas (grego de verdade, viu?)
O que acontece a partir do encontro de Maddox e Ashlyn é uma sucessão de eventos sobrenaturais, assustadores e fascinantes também.
Ambos procuram uma libertação e esta parece estar nos braços um do outro. Ao mesmo tempo podem ser letais, um para o outro; Maddox conhece seus motivos, mas Ashlyn não faz ideia de onde estava se metendo.
O mais curioso nessa série é que encontramos muitas semelhanças com outra que figura bastante nesta coluna. Algumas expressões, algumas maldições e maneiras de agir de determinados personagens são idênticas em ambas as coleções. Tudo bem, eu não me importo, até porque foi tentando amenizar minha frustração pela demora da publicação dos volumes seguintes da outra série que acabei conhecendo os Senhores do Mundo Subterrâneo. Mas, como uma maldição dos leitores fãs de séries, esta também deu uma parada na edição dos próximos volumes. Até o momento, foram publicados cinco volumes – o último foi lançado em 2011.
O que é uma pena, pois é uma série interessante e a gente fica sem saber o que acontece com os personagens, qual é o desfecho da história. A não ser, é claro que se opte por baixar as traduções que circulam por aí. Eu gostaria de completar a coleção, mas se não for o caso...
Maddox é um guerreiro, cuja maldição é mortal, tanto para ele quanto para todos ao seu redor. A Noite mais Sombria é um livro de romance e ação sobrenatural que é fiel ao seu estilo. É intenso do início ao fim, definitivo, se não fosse os demais personagens que figuram aqui, que também são maravilhosos e clamam por seu próprio volume.
Mas para quem espera cenas picantes, não fiquem tristes, pois o livro tem grandes momentos de extrema sensualidade, e não deixam de ser bonitas, pois ambos fazem suas descobertas juntos. Ah! A cena em que ambos tomam banho juntos pela primeira vez! Abafa!! O que foi aquilo???
Maddox e Ashlyn conseguiram me cativar e emocionar com sua história de sacrifício e amor.
Gena Showalter conseguiu em A Noite Mais Sombria criar um universo excitante, sobrenatural, com personagens que possuem maldições, poderes, mas também grandes vulnerabilidades. E são estas vulnerabilidades que conduzem a história.
Bom, mais uma coluna construída, mas um personagem que encontrou lugar cativo na galeria dos meus favoritos – Maddox – o gato da vez. Missão cumprida, e para brindar esse guerreiro gostosão, eis que descobri Alexis Papas (ai papai!), um modelo grego, em plena forma e formas. Ah! Grécia querida!
Fico por aqui, desejando a todos uma Sexta bastante Sombria – no bom sentido, é claro!
Fiquem bem e Carpe Diem!
Tania Lima

7 comentários

  1. Li indicado por uma amiga. E olha que esse livro já estava aqui em casa já faz um tempão, porque eu tinha comprado numa feira pela bagatela de R$ 5. Pra mim, Maddox encontra a paz que tanto almejava nos braços de Ashhlyn. É bem verdade que vários desafios ainda vão se impor em suas vidas, mas vê-lo juntos é a coisa mais fofa que a série poderia nos proporcionar. Amei a resenha Tânia... Parabéns!

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    1. Oi, Elimar, sua linda!
      Este é um dos meus preferidos da série.
      Adoro o Maddox a Ashlyn, e olha que o que há de mocinhas insuportáveis nesse mundo literário, não está no gibi!
      Mas a Ashlyn é doce, sem ser chata, é uma lutadora também!
      Que bom te ver por aqui!
      Beijos
      Tania

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  2. Oi Tania, que explicação heim? Deu para perceber o seu amor pela mitologia... kkk
    Eu estou lendo no momento o terceiro livro da série, o qual estou gostando bastante.
    O livro do Madoxx, talvez por ser o primeiro e ter muitas explicações, ficou meio morno para mim. E a personagem feminina também não conseguiu me cativar de todo. Apesar disso gostei do livro e me senti tentada a continuar lendo a série. Ótima resenha. Bjus

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    1. Oi, Lia, querida!
      Amo mesmo mitologia!
      O terceiro livro da série é o que eu gosto mais, amo o Reyes, na verdade gosto de todos, mas Reyes é a personificação da dor!
      Amo, amo, amo!
      Adorei te ver por aqui!
      Beijão

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  3. Eu amo essa série,e amo mitologia.

    Que texto hein Tania????

    De enlouquecer qualquer uma!!!!

    quero muito ler toda a série,mas cadê tempo???

    bjsss

    Bianca

    http://www.apaixonadasporlivros.com.br

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    1. Mais uma coisa em comum, né Biazinha????
      Só falta agora nos reencontrarmos para por a prosa em dia e matar a saudade.
      Gosto da série, mas estou meio invocada por conta da demora. Enfim, vamos aguarda!
      Obrigada, mais uma vez,linda, por sua presença!
      Beijão!
      Tania

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  4. Ai meu Deus eu quero essa serie. Agora entendi mais sobre o assunto do livro hehehehee. Até procurei aqui para comprar, mas o preço está bem salgado. Mas vou colocar na minha lista.

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