Sexta Envenenada: Pecados Sagrados!



“Não podes encontrar algum remédio para um cérebro doente, da  memória tirar uma tristeza enraizada, da mente extirpar as dores ali escritas, e com algum antídoto de doce e agradável esquecimento aliviar o peito oprimido a gemer sob o peso da matéria perigosa que comprime o coração?”
Macbeth
Washington
Parque público de Rock Creek
“[...]
Pequenos grupos de estudantes reuniam-se, alguns sentados nas pedras acima do riacho, para discutir o destino do mundo, outros se refestelavam no gramado, mais interessados no destino dos bronzeados. Os que tinham tempo e gasolina de sobra haviam fugido para a praia ou as montanhas. Alguns universitários encontravam energia para lançar discos de plástico, os homens ficavam só de calção para exibir o torso com um bronzeado uniforme.
Uma jovem artista plástica estava sentada sob uma árvore e fazia esboços na maior indolência. Após várias tentativas de atrair a atenção dela para os seus bíceps, que vinha trabalhando durante seis meses, um dos jogadores tomou um caminho mais óbvio. O disco pousou no bloco da moça com um estalo. Quando ela ergueu os olhos, aborrecida, ele aproximou-se correndo. Exibia um sorriso de desculpas, e calculado, pois esperara fasciná-la.
– Desculpe. Escapuliu.
Após empurrar uma cascata de cabelos escuros sobre o ombro, a pintora devolveu-lhe o disco.
– Não foi nada.
Retornou ao esboço sem sequer dar-lhe uma olhada.
Juventude é sinônimo de tenacidade. Agachando-se ao lado dela, ele examinou o desenho. O que sabia sobre arte não enchia uma xicrinha, mas não custava nada dar uma inocente opinião.
– Escute, isso é bom mesmo. Onde você estuda?
Reconhecendo o estratagema, ela ia ignorá-lo, mas ergueu o rosto apenas para retribuir o sorriso. Talvez ele fosse óbvio, mas era bonitinho.
– Georgetown.
– Está brincando? Eu também. Bacharelado de direito.
Impaciente, o companheiro do rapaz gritou do outro lado do gramado:
– Rod! Vamos tomar uma loura ou não?
– Você vem com frequência aqui? – perguntou Tod, ignorando o amigo.
A pintora tinha os maiores olhos castanhos que ele já vira.
– De vez em quando.
– Como a gente...
– Rod, anda. Vamos tomar aquela cerveja.
Ele olhou para o amigo suado, meio acima do peso, e depois de volta aos frios olhos castanho da artista. Não havia comparação.
– Eu alcanço você depois, Pete – gritou, e lançou o disco num arco alto e negligente.
– Terminou de jogar? – perguntou a jovem, vendo o voo do disco.
Rod riu e tocou as pontas dos cabelos dela.
– Depende.
Praguejando, Pete partiu em perseguição ao disco. Acabara de pagar seis dólares por ele. Após quase tropeçar num cachorro, deslizou por um barranco abaixo, torcendo para que o disco não caísse no riacho.
Sentiu o coração parar, e depois o sangue disparar e martelar na cabeça. Antes que pudesse inspirar para gritar, vomitou com violência o lanche de batata frita e dois cachorros-quentes.
O disco pousara a cinquenta centímetros da margem da enseada. Novo, vermelho e alegre numa mão branca que parecia atirá-lo de volta.
Era Carla Johnson, aluna de teatro de vinte e três anos e garçonete em meio período. De doze a quinze horas antes, fora estrangulada com um amicto de padre. Branco, debruado com fio de ouro. [...]”
Olá envenenados!

O texto acima, não faz parte de nenhum filme policial, embora pareça muito com a abertura de um. 

Hoje é a última sexta-feira de outubro, e encerrando o mês que foi dedicado a Nora Roberts, trago um dos seus suspenses mais explosivos.



Estou falando de Pecados Sagrados, Sacred Sins (1987), que foi publicado aqui pela Bertrand em 2009 e que traz em suas 350 páginas uma história de suspense, drama psicológico e, claro, um tórrido romance. Certamente, merecia um roteiro para as telonas.

Adão e Eva por Tamara de Lempicka

“Nos indolentes dias de verão, uma impiedosa onda de calor é o principal assunto na capital norte-americana. Mas a condição climática logo deixa de ser matéria das primeiras páginas quando uma jovem é encontrada morta por estrangulamento. Um bilhete foi deixado: Seus pecados lhe serão perdoados.”


O caso ganha atenção maior da polícia quando outras vítimas começam a aparecer e, consequentemente, a imprensa também começa a dar destaque em seu noticiário aos crimes do “Padre”.

Percebendo que se trata de uma mente doentia, de um serial killer, a polícia recorre ao auxílio da Dra. Tess Court, renomada psiquiatra, que lhes apresenta o “retrato de uma alma perturbada”.
O que mais me atrai nos textos de Nora é essa forma cinematográfica como começam. Ao ler as primeiras páginas, tenho a impressão de estar assistindo ao início de um filme. 

Outro ponto que também me prende, assim como os textos da Linda Howard e da J.R. Ward, é que seus livros têm personagens foco, claro, mas elas conseguem diversificar, tratar de outros personagens e suas histórias, não me deixando entediada e louca para que termine logo a leitura.

Nora Roberts

Essa habilidade de criar outras vidas, outros mundos, é magnífica, mas o autor não pode perder o objetivo e buscar manter a química entre sua história e seus leitores.

É o que acontece com as personagens de Pecados Sagrados

Aqui temos o detetive de polícia Ben Paris, que vê o caso do “Padre” como uma questão pessoal. Moreno, alto, rosto fino, ossos fortes, musculoso e com olhos verde-claros aos quais nada escapava.

Ben Paris

Com seu parceiro, Ed Jackson – um metro e noventa e cinco de altura e em torno de cento e quinze quilos, usando uma barba cheia tão ruiva quanto seus cabelos encaracolados, poderia intimidar qualquer um, não fossem seus olhos azuis tão afetuosos – garantem uma leveza, graças a sua boa relação e ao seu humor. Ambos terão de “engolir” a imposição do prefeito de que um psiquiatra faça parte da força-tarefa criada para solucionar esses crimes.

Ed Jakcson (Stephen Amell)
Ben é o tipo de policial que desperta às duas da manhã, levanta-se inteiramente nu à procura dos cigarros – que vem tentando abandonar, sob o “controle” de Ed – vai até a cozinha para fazer café, intrigado com o caso em que está trabalhando. Tem tórridas e hilárias discussões com o parceiro (típico) e se encanta com a visão da loira que está entrando no distrito policial, até saber que não é ninguém mais que a psiquiatra (até então ele acreditava tratar-se de um doutor não uma doutora).

Como a maioria dos policiais, Ben não aceita muito bem ter que receber “palpites” de psiquiatras, mas ele tem motivos pessoais muito fortes para ficar muito incomodado com a presença de um psiquiatra, sobretudo a Dra. Teresa Court.

Pecados Sagrados tem como foco a procura de um assassino metódico, que usa um padrão para escolher e matar suas vítimas. Mas o livro conta com outras histórias que funcionam como rios afluentes, dando uma riqueza maravilhosa a esse texto muito bem escrito.

A própria Dra. Tess Court vive algumas dessas histórias, como o seu envolvimento com um de seus pacientes; Joey Higgins que aos quatorze anos já precisa ser tratado contra a dependência química.

Ambos, Tess e Ben, têm muita bagagem e, embora sejam extremamente diferentes e tentam lidar com a restrição mútua, não conseguem negar a forte atração que sentem um pelo outro.

Com tantas informações para administrarem, com um caso extremamente complicado para solucionar, ambos se apaixonam, se envolvem e precisam manter-se muito focados, afinal Tess tem o perfil das moças que precisam de “salvação”.

Realmente, um dos suspenses mais eletrizantes que já li. Na verdade, eu nem me lembrava desse romance, mas como estava procurando algo bem diferente para concluir essa homenagem a nossa maga-mor, redescobri Pecados Sagrados, cuja escrita nos prende do início ao fim, não nos passa a sensação de final óbvio, enfim, A-D-R-E-N-A-L-I-N-A P-U-R-A.

Imperdível, mas não fiquem tristes, pois não faltarão títulos dessa grande autora para enriquecer essa coluna. Quem quiser mais informações sobre Nora Roberts e sua extensa obra acesse http://noraroberts.com.br/.


Desejando um feliz Halloween, fico por aqui. 

Com certeza retomarei a leitura desse livro viciante; vou deixar Stephen King me esperando só mais um pouquinho. 

Mas volto na próxima Sexta com mais emoções envenenadas para vocês!

Fiquem bem e Carpe Diem!

Tania Lima

12 comentários

  1. Ainda não tinha visto ninguém comentar sobre os livros da Nora ... sempre vi vários títulos dela mas nunca li ...
    Bom saber que é tão bom assim ...

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    1. Lari*, Nora é maravilhosa mesmo. Claro, tem quem prefira outros autoras. Mas eu gosto desse estilo, em que há muito mais na história do que apenas o romance.
      Curto autores que dão aos seus livros histórias pessoais, suspense, uma espécie quebra-cabeça mental, e eu amo quebra-cabeça!
      Tente essa experiência, talvez curta e depois me diga.
      Beijos e obrigada pela presença!
      Tania

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  2. Ainda não tinha ouvido falar desse livro,mas depois deste post não posso ficar sem lê-lo...

    Adorei,principalmente os atores que vocês escolheu para os personagens.....

    Bora pecar!!!

    bjsss

    Bianca

    www.apaixonadasporlivros.com.br

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    1. Bianca, querida vale a leitura. Tenho certeza de que vai gostar, me diz depois ok?
      Beijão, linda!

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  3. Esse foi o primeiro livro que li da Nora. Nem preciso dizer que adorei, pois amo um bom suspense com finais imprevisíveis. Confesso que o par romantico não me atraiu tanto quanto a trama em si, que é excelente.
    Ótima dica de leitura!
    Mil beijos, Tania!!
    PS: Depois dá uma chegadinha lá no Romances ao Vento. Uma certa pessoa acaba de invadir o romance e promete futuras emoções...
    http://romancesaovento.blogspot.com

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    1. Eu também, Rosane, a trama é mesmo o ponto forte do livro. Gosto muito disso.
      Já passei no Romances, andei xeretando e comecei a ler, já, já comento!
      Te amo!
      Beijos

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  4. Ai gente eu sou super suspeita para falar da Nora porque tenho vááááááááários livros e séries dela aqui na minha estante!!

    Amo de paixão sua escrita e não sei qual dos seus livros gosto mais: romances, policias, sobrenaturais... Ufa...

    Mas, por incrível que pareça não conhecia este livro dela!! O.O

    Então dona Tânia... estou ansiosíssima para ler esta delícia!!

    Amei o post!

    Beijocas! ;-)

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    1. Quando quiser, é só falar querida!
      Está aqui, em minhas mãos, enquanto o releio avidamente.
      Obrigada por confiar em mim e me presentear com esse espaço tão gostoso, viu? Você é linda!
      Beijão!

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  5. Olá Tânia. Eu já li este livro e confesso a você que ele não conseguiu me empolgar. Até demorei a ler. A trama policial é muito boa, mas o romance em si não me entusiasmou. Mas, claro que esta é minha opinião. Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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    1. Pois é Lia, isso é que interessante na vida: a diversidade de opiniões, com maturidade podemos discordar sem melindrar ninguém. Pois eu adorei o livro, justamente porque o forte é a trama policial, deixando o romance como coadjuvante.
      Beijos

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  6. Por favor pode me dizer o nome desse ator de olhos verdes o da foto em cima da do Stephen ?

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  7. O nome dele é Cory Bond, Noemi, mas até onde sei é modelo.

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