Coluna: ‘Sexta Envenenada!’


Olá queridos envenenados,

Escrever nunca foi fácil, especialmente quando se tem o compromisso de realizar esta tarefa, escrever para outros então... O que escrever, quanto escrever, como escrever?
Há muitos e muitos anos – espere... pela Deusa! Preciso consertar isso: há alguns anos atrás (melhor assim), minhas professoras exigiam redações, estipulando limites, máximo e mínimo, de linhas para que escrevêssemos sobre determinados assuntos – era a verdadeira A Hora do Espanto!
Caramba, uma coisa era ler os livros que nos enfiavam goela abaixo, outra era escrever sobre histórias que não gostávamos, que não despertavam interesse nenhum, era um tal de encher linguiça, isso ainda no tempo do trema – aqui sim A Hora do Pesadelo.
Descobri o prazer da leitura, no último ano do antigo ginásio (céus, logo entregarei minha idade), quando tivemos que ler um livro bobinho, mas que tinha tudo a ver conosco, era A Oitava Série C, de Odette de Barros Mott.
Assim, começou minha adoração pelos escritores que conseguiam fazer com que eu me visse em suas histórias, que me faziam olhar pela perspectiva das várias personagens. Daí vieram O Escaravelho do Diabo (Lúcia Machado de Almeida), Dom Casmurro (Machado de Assis), O Encontro Marcado (Fernando Sabino), e tantos outros. Com eles eu me envolvia, e mal conseguia desgrudar as histórias para realizar outras atividades. Tornava-me parceira do autor, tentando decifrar os mistérios, brigava com os mocinhos e mocinhas, falava mal ou bem das personagens, chorava, ria, enfim, vivia cada história e me deprimia, como até hoje, com a chegada do final do livro.
Acho que esse é o segredo de um bom livro, você tem um companheiro que te aceita sempre quando o procura e não te pede nada. Egoísmo, não é? Mas é assim mesmo que acontece quando curtimos ler.
Há alguns dias, tive uma surpresa incrível, que foi o convite para escrever sobre algo que tanto amo, que são os livros. Não acreditei quando a Mathilde fez uma gracinha no Facebook, dizendo que precisava me fazer uma proposta indecente, pois eu não fazia ideia do que poderia ser. Fiquei entre inerte e com a pulsação tal qual os motores da Fórmula 1, quando ela me convidou para colaborar com As Envenenadas pela Maçã.
Era um presente mais que um convite, pois poderia fazer o que curto, num local delicioso e aconchegante e para gente a rodo... deu uma aflição no estômago... que responsabilidade!
Lá estava eu novamente na carteira da escola... pior, pois não escreveria sobre um texto que minha professora solicitou, mas sobre vários títulos, para várias pessoas... e põe várias nisso.
Mathilde querida, muito obrigada pelo presente. Espero estar à altura de suas expectativas, embora eu agora tenha a impressão que você é muito corajosa, ou louca, ou as duas coisas, mas acredite, estou muito honrada por estar fazendo parte dessa equipe tão querida e desse cantinho que há tempos acompanho. Cara, ainda não creio que isso está acontecendo!
Então, toda sexta-feira me aguardem com muita informação ‘quente’ para vocês sobre livros, autores e autoras e muitos personagens que encantam e arrebatam os corações de nós leitoras vorazes!!
Sexta-feira já é um dia muito aguardado para nós todos e vai ser mais ainda para quem acompanhar a coluna ‘Sexta Envenenada’...
Conto com a participação de vocês através dos comentários e ainda contribuições de ‘temas’ ou de livros que vocês gostariam de ver em pauta aqui no blog! A casa é sua...
Então, vamos lá...
Com muita força na peruca e a manicure em dia, lá vamos nós!

Tania Lima


 “[...]
A porta foi aberta e Swain entrou na sala como se estivesse passeando. Na verdade, caminhava assim em todos os lugares. Ele andava como um caubói que não tinha lugar algum para ir e não tinha a menor pressa de chegar. As mulheres pareciam gostar disso nele.
Swain era uma daquelas pessoas bonitas que parecem ser sempre bondosas também. Havia um sorriso ingênuo em seu rosto quando disse olá e sentou-se na cadeira indicada por Frank. Por algum motivo, o sorriso funcionava do mesmo modo que seu caminhar: as pessoas gostavam dele. Ele era um ótimo investigador porque encontrava as pessoas. Podia ser um homem feliz demais, podia ter um jeito de caminhar que era a própria definição da preguiça, mas fazia o serviço direito. Vinha fazendo o serviço direito na América do Sul há quase uma década, o que explicava seu bronzeado e sua boa forma.
Ele estava começando a aparentar sua idade, Frank pensou, mas isso não acontecia com todos? Havia uns fios brancos nas têmporas e na parte de cima do cabelo castanho de Swain, que era mantido sempre bem curto, devido a um redemoinho na parte da frente. Linhas de expressão marcavam seus olhos e sua testa, com marcas mais fundas nas bochechas, mas, com a sorte que tinha, as mulheres provavelmente achavam que ele era tão bonitinho quanto seu caminhar. Bonitinho. Franl concluiu que só podia estar ficando louco ao se referir ao seu melhor agente como bonitinho.
- O que foi? – Swain perguntou, estivando as pernas compridas e relaxando, sua espinha curvando-se ao afundar na cadeira. A formalidade não era seu forte.
- Uma situação delicada na Europa. Uma de nossas agentes secretas matou, por vontade própria, um informante importante. Precisamos detê-la.
- Uma mulher?
Frank entregou-lhe o relatório que estava sobre a mesa. Swain o pegou, leu rapidamente e o devolveu.
- O estrago já foi feito. O que mais há para ser detido?
- Salvatore Nervi não estava sozinho na situação que resultou na morte dos amigos de Lily. Se ela estiver decidida a pegar todos eles, poderá destruir nossa rede toda. Ela já causou prejuízo demais eliminando Nervi.
Swain coçou o rosto e rapidamente esfregou as duas mãos nele.
- Você não tem um agente irascível e trapaceiro, que esteja afastado, com alguma habilidade especial, que o torne a única opção possível para localizar a sra. Mansfield e pôr fim, de uma vez por todas, à sua matança?
Frank mordeu a língua para conter um sorriso.
- Isso lhe parece uma produção cinematográfica?
- A esperança é a última que morre.
- Considere suas esperanças mortas.
- Tudo bem; então, que tal John Medina? – Os olhos azuis de Swain mostraram divertimento enquanto ele entrava na onde de infernizar Frank.
- John está ocupado no Oriente Médio – Frank respondeu calmamente.
Sua resposta fez Swain se endireitar em sua cadeira, afastando qualquer sinal de preguiça. 
- Espere um pouco. Quer dizer que existe um Medina?
- Existe um Medina.
- Mas não há um arquivo para ele... – Swain começou a dizer, interrompeu-se, sorriu e disse: - Opa...
- Isso quer dizer que já procurou.
- Droga, todo mundo na área já checou.
- É por isso que ele não tem um arquivo no sistema. Para permanecer protegido. Mas, como eu dizia, John está ocupado no Oriente Médio e, de qualquer maneira, eu não o usaria para recuperar outro agente.
- Isso quer dizer que ele é bem mais importante que eu. – Swain voltou a esboçar seu sorriso ingênuo, mostrando que estava brincando.
- Ou que ele tem talentos diferentes. Você é o homem que quero, e vai voar para Paris hoje à noite. Vou lhe dizer o que preciso que você faça. [...]”
Escolhi o alucinógeno de hoje não por acaso. Lucas Swain é um dos protagonistas de Beije-me Enquanto Durmo (Kiss me While I Sleep), de Linda Howard, de 2004, publicado por aqui pela Bertrand Brasil em 2006.

Lucas Swain me cativou pelo seu jeito leve de ser e de ver as coisas. Na verdade, este foi meu primeiro romance adulto escrito por uma mulher.
Devo confessar que torcia o nariz para romances “mulherzinha”, desde menina, na verdade. Nunca gostei da Cinderela, Branca de Neve ou Bela Adormecida. Curtia mais a Bela (A Bela e a Fera), Esmeralda (O Corcunda de Notre Dame), Mulan, e outras que não esperavam por seus príncipes para serem felizes. E foi exatamente isso que me encantou em Beije-me Enquanto Durmo (e vários outros títulos da Howard).
São personagens que se aproximam da realidade, personagens possíveis na vida real e que me fizeram tirar o chapéu para romances escritos por mãos femininas.
Assim é Swain: com esse caminhar, com aquele sorriso, uma piada bem colocada, mas que também pode ser letal. Caí de quatro por ele e, na época em que li o romance (policial), estava em recesso escolar e minha filha estava com o pai. Como eu não tinha outros livros que já não conhecesse o conteúdo de cabo a rabo, resolvi enfrentar aquele livro vermelho com um casal se beijando, que havia recebido de presente de uma amiga há vários meses, senão anos. E, mordi a língua, pois realmente não se deve avaliar um livro pela capa. Eu olhava pro livro e imaginava: é livro de romance mela calcinha, cheio de frescuras de mulher. Gente, me entendam, sou mulher e adoro os caras, amo homens de todas as cores, formas e tamanhos. Podem acreditar, é cabra macho, exalando testosterona, é meu número. Mas não suporto a ideia daquelas histórias em que a mulher é sempre coitada, eternamente virgem... nada contra quem seja, mas, felizmente, quando o assunto é leitura, nós podemos escolher, não é?
Enfim, comecei a ler o livro e... pessoas... não consegui largar dele até terminar de ler. Devorei 349 páginas em 2 dias. No final, estava com os olhos latejando, mas foi o tempo de tirar um par de horas de soninho e fazer a segunda leitura.
Confesso, estou com vontade de lê-lo novamente.
Sou apaixonada por Swain desde sua entrada na história, que é exatamente no trecho que transcrevi aqui, até sua última aparição.
Ele tem tudo o que é preciso, senso de humor, inteligência, sensibilidade e lealdade. Um personagem que ficaria fantástico nas telonas, aliás, a história de Beije-me Enquanto Durmo é cinematográfica mesmo. Se fosse possível ver essa história nos cinemas, acho que Alex O´Loughlin ficaria perfeito para o papel, não apenas pela descrição física, mas também por sua performance em alguns papéis como em Plano B e Havaí 5-0. Além de minha nova paixão, é um excelente ator!
Para sorte de Swain, e minha também, a mocinha, Lily Mansfield, é fantástica. Inteligente, realista, passional e corajosa.
Ambos formam uma parceria, na qual, não conseguimos ver inicialmente, uma possível atração sexual, mas é TNT pura. E, para completar, Linda Howard descreve com riqueza de detalhes toda a trama: os personagens secundários também têm suas histórias, seus dilemas, as conversas são inteligentes, atraentes.
Só pra atiçar um pouco a curiosidade, transcrevo um dos diálogos que mais gosto (isso num simples telefonema):
“[...]
Em um impulso, pegou seu telefone e ligou para o celular de Lily, só para ver se ela atenderia.
- Bonjour – ela disse, e Swain pensou que talvez ela não tivesse visto quem era, mas era mais provável que atendesse em francês por força do hábito ou precaução.
- Olá. Já tomou café?
- Ainda estou na cama, portanto não, ainda não comi nada.
Ele olhou para seu relógio: ainda não eram seis horas. Ele a perdoaria por ser preguiçosa. Na verdade, estava contente por tê-la surpreendido na cama, porque ela estava com a voz sonolenta e suave, sem sua rigidez contumaz. Tentou imaginar o que ela vestia para dormir, talvez um minúsculo top e uma calcinha, talvez nada. Definitivamente, não devia vestir nada transparente e sensual. Tentou imaginá-la em uma camisola longa, ou uma camiseta larga, e não conseguiu. No entanto, conseguiu imaginá-la nua. Ele imaginou tão bem que seu pênis se animou e começou a enrijecer, exigindo que ele tivesse controle.
- O que está vestindo? – A própria voz saiu mais lenta e grave que o normal.
Ela riu, surpreendida.
- Este é um telefonema obsceno?
- Poderia ser. Estou sentindo que emoções fortes virão. Diga-me o que está vestindo. – Ele a imaginou sentada, encostada nos travesseiros, puxando o cobertor para debaixo de seus braços, afastando seu cabelo despenteado do rosto.
- Uma camisola de flanela da vovozinha.
- Mentirosa. Você não é o tipo de mulher que veste esse tipo de camisola.
- Você ligou por algum motivo além de me acordar e perguntar o que estou vestindo?
- Sim, mas me distraí. Vamos lá, me diga.
- Não faço sexo verbal. – Ela parecia estar se divertindo.
- Por favor, vai! Poooor favooooor.
Ela voltou a rir.
- Por que quer saber.
- Porque minha imaginação está me matando. Você parecia tão sonolenta quando atendeu, e eu imaginei você toda macia e quente debaixo das cobertas. Foi daí que as coisas começaram a subir. – Ele olhou sorrateiramente para a sua ereção.
- Pode parar de imaginar. Não durmo nua se é o que quer saber.
- Então, o que está vestindo? Eu preciso mesmo saber, para imaginar direito.
- Pijama.
Droga, ele tinha se esquecido dos pijamas.
- Curto? – atreveu-se a perguntar, esperançoso.
- Em outubro troco pelos longos, e volto para os curtos em abril.
Ela estava estragando seus sonhos. Ele a imaginou de pijama e o efeito não foi o mesmo. Suspirou.
- Você poderia ter dito que estava totalmente nua – reclamou. – Que mal isso faria? Eu estava me divertindo aqui. [...]
Detalhe, eles sequer tinham intimidade alguma nessa altura do livro, foi mesmo um telefonema sem intenção sexual que mudou totalmente o rumo da conversa e, claro, não acabou aí, ele com certeza continuou cutucando a onça com a vara, já não tão ereta. 
Mas o diálogo, além de excitante, tornou-se hilário.
Este homem, definitivamente abalou as estruturas rígidas da Lily, que longe de ser uma mulher frágil e desprotegida, começou a ver uma nova perspectiva para sua vida.
Meu primeiro amante literário: LUCAS SWAIN.
A partir dele, conheci e tive outros amantes tão maravilhosos quanto ele, e através dele conheci a IAN, assim como pessoas maravilhas como Mathilde Tonionni.
Na próxima semana, vou aproveitar o gancho de Beije-me Enquanto Durmo, para falar de outro personagem que também é implacável, em todos os sentidos.

Beijos envenenados,

 Tania Lima

4 comentários

  1. Bem vinda Tania Lima, sua linda! Adorei a novidade e a coluna ficou 10! E claro que você tinha que trazer o tudodibão do Alex! E com certeza a dica do livro já vai pra listinha dos desejados. Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  2. Que bom que você gostou, Lia! Sua opinião é muito importante e tenho certeza de que se apaixonará pelo Lucas, tanto quanto eu!
    Aproveite!

    Obrigada, querida!
    Bjs
    Tania Lima

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  3. Não conhecia o livro,mas me apaixonei pelo personagem!!!!

    Que sexta quente e envenenada é essa???

    Adorei e o livro já foi para lista de desejados.

    Também gostei muito da sua introdução,muitas pessoas tem pavor de ler por conta dos tenebrosos anos da escola onde eram obrigados a ler livros chatos e nada interessantes.

    Bem vinda ao Envenenadas.. eu sei que ficarei ansiosa pelos seus posts!!!

    bjsss

    Bianca

    http://www.apaixonadasporlivros.com.br/

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    Respostas
    1. Bianca, você é única!
      Obrigada pelo carinho e pela força, querida!
      Na verdade, eu lamento muito que não publiquem mais livros da Linda por aqui, ela é maravilhosa!
      Beijão, querida!
      Tania

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